quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

José Freire Antunes

Conheci o José Freire Antunes quando eu era jornalista no "Semanário" e ele militante do PSD. Mais propriamente, em 1996, quando ele se candidatou a líder no congresso de Santa Maria da Feira. Entrevistei-o, por causa dessa demanda, em sua casa em Carnaxide, mas, por azar dos azares que já aconteceram a todos os jornalistas, o gravador não a gravou e tive de repetir a entrevista num restaurante de Campo de Ourique.

Já tinha alguns dos seus livros, do melhor que a história da segunda metade do século XX podia ser contada, conversámos depois várias vezes e sempre mantivemos uma amizade distante mas que era sempre pontuada pelo simpático envio com dedicatória dos livros seguintes que escreveu.

Mais tarde, quando construiu um centro de estudos históricos, uma editora e realizava alguns debates, convidou-me para escrever um livro sobre uma personalidade do século XX/XXI, integrada numa colecção que queria realizar sobre diversos políticos, mas que não avançou, e ainda o ajudei num desses debates no Nicola, no Rossio.

Era um homem complexo, de paixões, duro e determinado. Deixou a obra válida dos seus livros e muita prosa em jornais. Soube que partiu para outro mundo. Esta é a minha dedicatória, apenas uma, mas sentida, com grande consideração intelectual e amizade, a quem me deixou muitas mais. Que descanse em paz.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

El Español

É o novo projecto de Pedro J. Ramirez, o ex-director do El Mundo, que aposta num diário digital, com tecnologia avançada, porque acredita que em menos de 15 anos não haverá jornais editados em papel em Espanha - coisa que não acredito.

Uma das novidades é o seu financiamento em "crowdfunding", gerando em pouco tempo já mais de 500 mil euros. Um grande director, polémico, marcante, é meio caminho andado para um projecto noticioso. E com a política espanhola em constante mutação, dali sairá muita bomba.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Como os políticos tentam controlar o seu legado

Um dia a HBO anunciou a realização de um documentário sobre Bill Clinton. Ao leme do projecto, Martin Scorsese. Na altura, o ex-presidente declarou que a sua alegria por ter despertado o interesse de «um realizador mítico». O grande mestre respondeu que o seu trabalho iria trazer «um conhecimento mais amplo desta figura transcendente».

Dois anos depois, decidiram cancelar o documentário. Os motivos sussurrados vêm do facto de Clinton querer interferir no produto final. Scorsese não teve pachorra para o aturar, sobretudo numa altura em que a sua mulher, Hillary, é a melhor posicionada para suceder a Obama.

Os políticos têm passado, presente e futuro. Apesar de se preocuparem com o dia-a-dia, têm uma enorme preocupação com o seu legado, porque o dia seguinte ao exercício do poder pode torná-los mais populares. Assim é com Bill Clinton.

Ter um génio criativo a escrever as páginas do passado para o futuro é um risco enorme que Clinton correu. Perdemos um documentário.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Os Comuns e as mulheres nuas

A Inglaterra é um espaço de liberdade, multiétnica, cada vez mais um enorme caldo de culturas. Apesar do crescimento eleitoral dos nacionalistas, a democracia é algo que ali nunca deixará de acontecer.

No mesmo dia desta semana, a Câmara dos Comuns celebrou 750 anos e uma "instituição" nacional, a página 3 do "The Sun" que apresentava sempre uma mulher despida, acabou. O Parlamento dos homens livres e aberto a todos é eterno, o sexismo, segundo os críticos, do tabloide acaba o que é um sinal de modernidade. Mas ambos um espelho da liberdade de opinião. A dos "Charlies".

domingo, 18 de janeiro de 2015

O fetichismo imagético de CR7

O título deste post é uma passagem deste notável artigo sobre Cristiano Ronaldo publicado pelo Estado de São Paulo que aconselho leitura.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Presidenciais: a memória selectiva de Marcelo e a má memória do jornalismo

Uma das coisas que me tem divertido nos últimos tempos é a questão das presidenciais. Gosto do jogo do gato e do rato, gosto da marcação cerrada entre homens, gosto de ver o nervosismo a aumentar.

Santana miou condicionando os outros, Marcelo uivou nervoso e dormindo mal à noite com os nervos, Rio também ladrou, mas é um ladrar ainda sem objectivo. E Guterres também vai realizando ruídos, estes mais certos, pois a sua pretensa candidatura a secretário-geral da ONU é apenas uma daquelas conversas, bem conhecidas dos que têm memória, de mais tarde fazer constar que recusou um alto cargo internacional por um imperativo de consciência nacional. Para quem não percebeu, mas bastou na semana passada o desmentido da manchete do Sol - que o retirava da corrida - com uma declaração ao Expresso, Guterres é o candidato da esquerda e é um bom candidato.

À direita há algo que me faz rir na memória selectiva de Marcelo e na má memória de alguns jornalistas que publicam a sua tese. E qual é a tese dele? É que muitos candidatos à direita pulverizam a hipótese da mesma vencer as presidências.

Mas Marcelo tem memória só para o que lhe interessa, que é que tudo se una em torno da sua candidatura porque a sua cobardia habitual só lhe permite avançar pela certa e sem adversários. E não tem vergonha de se esquecer que, em 1985/86, a direita era unânime no apoio a freitas do Amaral. E a esquerda estava ultra-pulverizada com três pesos-pesados: Salgado Zenha, Maria de Lurdes Pintasilgo e Mário Soares. E, por sinal, a tal esquerda com muitos candidatos ganhou. E até ganhou o candidato que partia atrás nas sondagens.

Marcelo tem de compreender que uma eleição presidencial resulta da vontade de um homem. Do seu afã em se candidatar e não de unanimismos ou escolhas partidárias. É uma prova de coragem e mentalmente dura. Marcelo é medroso e frágil psicologicamente, sempre assim foi para seu mal. E ele até tem medo que o talhante do meu bairro tenha vontade de ser candidato presidencial. É que ele ainda não decidiu, mas pode. Basta recolher assinaturas.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Sugestões para a semana

Livros

História da Expansão do Império Português, João Paulo Oliveira e Costa (coordenador), Esfera dos Livros, 678 páginas. Um bom trabalho sobre o crescimento e sustentação do império colonial português. Bom para vermos a estratégia que presidiu a esta gesta.

A Casa Negra, Peter May, Marcador, 445 pág. Este livro foi-me sugerido por um amigo. Estou a lê-lo neste momento, é sombrio, é retirado da alma, é um grande policial.

Cinema

Na televisão o destaque vai para o próximo sábado com "Lágrimas e Suspiros", na RTP2, às 22.40h, mais um grande filme do mestre Ingmar Bergman que o canal transmite num ciclo durante o mês de Janeiro.
A comprar "Getúlio", um quase documentário de João jardim, sobre um dos mitos da história política brasileira: Getúlio Vargas, interpretado por Tony Ramos. É interessante, não é sensacional.
Uma caixa de David Cronenberg que destaco com três películas, mas sobretudo por "Irmãos Inseparáveis", que não se encontrava em edição dvd recente, e é um dos mais geniais do realizador canadiano. Ainda tem lá "Spider" e "Zona de perigo".

Séries

Espero que estejam a acompanhar uma das mais importantes séries europeias de sempre. "Borgen", dinamarquesa (onde aparecem muitos rostos que já vimos em The Killing, também da mesma proveniência), um soberbo tratado sobre o poder e os spin doctors que passa todos os dias da semana  na RTP2. Mas na terça teremos o regresso de The Good Wife na sexta temporada e gostei na semana passada da estreia de "Tyrant".

Documentários

Terça, 2.50h, no Arte, "Mosfilm". Um retrato sobre a Hollywood russa por onde os grandes génios Eisenstein e Tarkovski passaram.
Amanhã, no TV5, às 13h, "Planeta Yoga" sobre o crescimento desta corrente de ascese oriental em todo o mundo.

Restaurante

"Antónia". Um muito simpático restaurante no Bairro Alto de petiscos portugueses. Jantei lá em Dezembro, adorei e volto em breve. Preços em conta e destaco a farinheira à Braz e os pratos de polvo.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

As doenças das mulheres dos Primeiros-Ministros

Menciono apenas dois casos de mulheres de Primeiros-Ministros portugueses que, infelizmente, foram atingidas por doenças graves. As de António Guterres e de Pedro Passos Coelho, e que consequências podem ter para a acção governativa dos maridos.

Em termos puramente comunicacionais, a imagem sai reforçada. Porque a consternação pública face à doença leva a que as pessoas aumentem a consideração por quem caminha junto com a dor. Ninguém gosta, por muito adversário que seja, que alguém passe por uma tormenta do destino.

Mas tal como se diz que por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher, este é um momento em que o homem tem de ser forte, física e mentalmente, para resistir às tarefas diárias da governação e assistir ao sofrimento da sua mulher. Lembramo-nos que houve um momento em que António Guterres foi, naturalmente, bastante afectado e mesmo aquela imagem que muitos recordam das contas de cabeça do PIB foram num momento logo após o conhecimento da doença que viria a vitimar a sua companheira.

Como disse muito bem Passos Coelho na nota enviada para as redacções, este é um tempo de reserva e de intimidade do casal. Não é espaço para "voyeurismos" mórbidos. Restando às pessoas desejar as melhoras e que a sua mulher vença o combate.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Nós e os nossos espectadores

«Agora dá a impressão de que não se passa nada sem que as pessoas contem com espectadores e espelhos de todas as suas actividades, até as mais vulgares. (...) Às vezes perguntamo-nos se ainda há muitos indivíduos capazes de desfrutar de algo sem ser contemplados no seu desfrute»

Javier Marias, em crónica na revista do El Pais

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Marcelo, Guterres, Lula e a ONU

Marcelo de semana para semana mantém os seus transtornos, sente-se que está mais nervoso por poder perder uma vez mais uma etapa da vida, a sua grande ambição de chegar a Belém pela qual manipula há anos a cabeça de muitos portugueses aos domingos nas suas prédicas.

Treme todo com António Guterres e pelo que me contaram esse tremor leva-o a dizer disparates que ele próprio devia ter vergonha depois de os dizer. Ontem, parece que inventou que Dilma quer enviar Lula para secretário-geral (SG) da ONU.

Devia saber que o Brasil é na América do Sul e que por um sistema que existe há muitos anos na ONU, o próximo SG será europeu e numa primeira opção poderia vir da Europa de Leste mas que por causa do cargo de Donald Tusk (polaco) na Europa, poderá ser um candidato da Europa Ocidental e aí se encaixa e está e bem encaminhado o nome de António Guterres se ele assim o desejar.

Espero que Marcelo na próxima semana se penitencie por mais um erro. Erros que se agravarão até tomar a sua última decisão e Marcelo nunca teve como característica marcante tomar decisões.