terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Amar Portugal

Com as presidenciais de domingo acaba um ciclo de actos eleitorais. Em Belém e São Bento estão dois novos protagonistas. Agora é tempo de trabalhar, de tentar tornar Portugal melhor, puxar o máximo por nós, credibilizar a vida política, tornar o nosso País mais optimista, dar-lhe outro rumo.

O que lhes peço, a Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa, é quase o mesmo que o grande realizador Ettore Scola, que partiu há uma semana, disse numa das suas últimas entrevistas, como conselho aos jovens realizadores italianos:

«Esqueçam a autobiografia, que é um bicho feio; amem a Itália, não poderão fazer bons filmes se não amarem a Itália». Eles não poderão ser bons políticos se não amarem Portugal. É o que lhes peço: amem Portugal.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A marmita de Marcelo

A três dias das presidenciais, só há um resultado possível: a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa logo na primeira volta. Qualquer outro resultado é uma derrota colossal de um homem que não precisou de  fazer campanha e nada disse de importante ou essencial.

Marcelo, que dispara análises e comentários mais rápido do que a própria sombra, vestiu o papel de morto um mês e nem precisava de mais. É que teve uma campanha montada durante 15 anos em comentário no "prime-time" das televisões. Não há nenhum "case-study" da sua campanha, se o houver é apenas a prova que a televisão pode vender um sabonete e eleger um presidente como em tempos disse Emídio Rangel. Só que no caso, em vez da SIC foi a TVI onde passou mais de uma década a elogiar a manicure Clotilde e a fazer referências simpáticas a pessoas e a livros que nunca leu.

Marcelo é um homem inteligente, ninguém duvida, e a melhor prova é como enganou os portugueses construindo a imagem de tipo porreiro que tanto jeito lhe dava. Tal como encenou aos 50 anos que era do Braga, para não ter de dizer, que era do Sporting ou do Benfica para não hostilizar as massas do futebol, agora o seu grande facto é o mito de que almoça de uma marmita.

Os que foram alunos dele - é o meu caso - sabem que, para lá de ele ser um bom professor, ele conseguia chegar com uma hora de atraso às aulas a assobiar ou a cantarolar mas nunca o viram de marmita na mão, A marmita é apenas o seu dom de imbecilizar as pessoas que acreditam nesta tanga perversamente simpática. É um dom que ele tem. Tem a capacidade de ciciar como as serpentes para dar a mordida final.

Como escrevi uma vez, ele não é a simpática rã que dá boleia ao escorpião para atravessar o rio. Ele é o escorpião. Vestiu-se apenas de rã há 15 anos nas televisões e o povo comeu. Pobre povo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A mulher de Sampaio da Nóvoa

Não conheço Sampaio da Nóvoa nem a mulher dele de lado nenhum. Não sou seu apoiante, nem de nenhum candidato, e estou-me marimbando para esta medíocre campanha eleitoral (deixo o meu "statement").

Mas há coisas que tenho pena que os portugueses engulam sem pensar. Que sejam manipulados sem perceber e odeio hipocrisias. Hoje, um dos temas do dia é se Sampaio da Nóvoa ainda está casado ou não. Como se isso interessasse ao país real, ao país que trabalha, ao país que estuda, ao país que lê. No entanto, nas redes sociais vai viva a partilha sobre este disparate que não interessa a ninguém e discute-se.

Ninguém percebe, enquanto contribui para o barulho, que ao mencionar o caso da mulher de Sampaio da Nóvoa passa mais uma semana e não aparece a primeira-dama de Marcelo Rebelo de Sousa. Por causa desta hipocrisia sou obrigado a perguntar:

1. Marcelo tem a mesma namorada, Rita, ou não?

2. Se sim, e a resposta deve ser sim, por que é que ainda a senhora não apareceu na campanha?

3. Não apareceu porque não o apoia?

4. Não apareceu porque está em casa a preparar-lhe a marmita?

5. Não apareceu porque está ainda a tratar de resolver o assunto dos espoliados do BES onde ela era cargo de topo?

6. Onde anda então a namorada de Marcelo, vive com ele?

Estas seis perguntas também não têm interesse nenhum, eu sei. mas acabem lá com a hipocrisia.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Portas e Assunção

O CDS deve muito a Paulo Portas. Um líder que sai pelo próprio pé, que deu tranquilidade ao partido, que o fez crescer e entrar no Governo. Um líder que era o mais inteligente e melhor comunicador da política portuguesa.

Cometeu erros? Claro que sim. Muitos? Bastantes. Mas passou pelos problemas como entre pingos da chuva. Deixou legado para o anedotário político? Também. O seu «irrevogável« entrou no léxico do humor, mas tenho a certeza, como o conheço, que usará essa palavra para seu próprio "spin" outras vezes e rirá muito com ela, porque ele é um tipo divertido e para lá daquela aura de "gravitas" que soube construir tem a capacidade, como qualquer pessoa inteligente, de rir de si próprio,

O seu futuro é o que ele quiser. É um homem novo, com curiosidade intelectual, que pode voltar a escrever - poucos o fazem com a sua clareza e capacidade de correr riscos - e ser o melhor analista da realidade portuguesa. Se as televisões forem competentes, ele é o melhor sucessor de Marcelo para as noites de domingo. E tenho a certeza que a sua mãe, a Helena, de quem muito gosto e com quem muito aprendi, ficará muito contente se ele seguir essa via.

Entra a Assunção Cristas. Logo no dia em que Portas anunciou a sua saída, escrevi no meu twitter que ela seria a mais forte candidata e neste momento a melhor sucessora. Esse é um dos legados que o CDS mais deve ao Paulo. É que ele robusteceu -  e descobriu muitos deles entre os quais ela - um partido de bons quadros, jovens, competentes e aguerridos politicamente.

Logo no início do mandato do Governo PSD/CDS, a revista "Meios & Publicidade" convidou-me para escrever sobre a comunicação do mesmo. Ali escrevi que Assunção Cristas era um bom produto de comunicação. E é e continuará a ser. Não a conheço pessoalmente, mas a minha percepção de muitos anos de jornalismo e comunicação política é que tem boa imagem, tem capacidade transversal de entrar em vários segmentos de eleitorado, tem o afã de liderar, naquele seu jeito de menina-mulher é um falcão com concupiscência pelo poder.

Vamos ver agora que discurso irá elaborar, rompendo suavemente com o PSD, ocupando rapidamente o espaço da mais dura das oposições a António Costa. Sendo conservadora, não pode ser beata, esse um dos seus pecados em algumas declarações que tem de mudar, tem de conquistar o eleitorado urbano, namorar a cultura e o eleitorado jovem, e ser uma produtora de soundbytes ao nível do seu antecessor, aí já será mais complicado, porque nesse capítulo Portas era imbatível.

São novos tempos. O CDS vai adaptar-se mais rapidamente a eles que o PSD. De Assunção Cristas falaremos muitas vezes. Mas de Paulo Portas também. Ele vai continuar por aí.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

David Bowie antecipou impacto da internet

David Bowie era um criador e inovador e assim sendo estava atento aos movimentos do mundo. Aqui pode ver a entrevista à BBC. A peça é do Público.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

As versões que interessam

«Os nossos líderes não andam a liderar nada, e muito menos a contar-nos o que está a acontecer. É aí que eu entro. Conto às pessoas o que está a acontecer. O importante na nossa sociedade não é o que acontece mas quem conta o que acontece. Vamos deixar que sejam só os políticos a contá-lo? Seria um suicídio, um suicídio nacional. Não, não podemos confiar neles, não podemos ficar-nos pela sua versão»

Juan Gabriel Vásquez, "As Reputações", edição Alfaguara

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A "transparência" da Câmara de Lisboa

A Câmara de Lisboa decidiu criar um grupo de trabalho denominado «Transparência» para propor melhorias na maneira de comunicar entre o município e os cidadãos.

Entendo que todas as iniciativas para melhorar a comunicação e dar-lhe maior transparência são sempre positivas. No caso, não envolve vereadores, apenas três técnicos (um deles, a Maria Louro, pessoa que conheço e prezo), que tentarão dar ideias para que a qualidade e a rapidez da informação esclareça cabalmente os munícipes.

Qual é o único senão desta iniciativa? É que nesse grupo de trabalho não está nenhum especialista em comunicação e assim falta a visão profissional de quem trabalha todos os dias e conhece o relacionamento dos meios (tradicionais e digitais) com empresas, pessoas e instituições.

É bom ouvir as ideias dos técnicos internos, falta é conhecer a visão de quem sabe o que faz e tem a perspectiva do munícipe/cidadão face à qualidade e transparência da informação oriunda da Câmara de Lisboa. A rever e ainda vão a tempo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A internet e o embaraço da falsidade

Quem me conhece sabe que todos os dias recolho notas de histórias que me interessam. Algumas esqueço-as, outras, recupero-as. Há pouco tempo atrás, a revista do El Pais conseguiu uma coisa muito rara: uma entrevista com Prince.

Um dos maiores génios da música contemporânea, que nem os seus agentes sabem muito bem onde vive, que toca quando lhe apetece e opta pelo camaleonismo de vestir diversas peles e estilos, só tem por hábito aparecer na sua terra natal, Minneapolis, para ir criar para os seus estúdios, Paisley Park.

Nessa conversa corrida, Prince diz: «Todo a gente percebe quando alguém é negligente, e agora com internet é impossível que um redactor o seja, porque todos o apontariam. Agora é embaraçoso dizer algo falso. Convém-te dizer a verdade».

Esse é um dos lados, quando não raivoso e marcado pela justiça popular, positivos da internet. O escrutínio aumentou, o erro, mas sobretudo a falsidade, são difíceis de esconder. Mas ainda há quem tente enganar as pessoas. Nestas presidenciais em Portugal isso tem sido bem visível.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

A miséria das presidenciais

É penoso o que está a acontecer nestas eleições presidenciais. É uma miséria, é uma vergonha, é uma imbecilidade, diria eu. Vasco Pulido Valente chamou-lhe ontem, no Público, «a galeria dos horrores».

Portugal tem mais de 40 anos de maturidade democrática, promoveu políticos e suas carreiras, gente com talento e outra com menos talento, e chegamos a 2016 com estas criaturas candidatas a Belém. Ainda mais, para quem tem memória, quando é escolhido um Presidente da República para um primeiro mandato, a carga de energia é maior e a capacidade de mobilização e empenho mexia com os portugueses.

Desta vez nada acontece. Os portugueses estão-se marimbando para estas presidenciais, as campanhas são medíocres, os debates são, para lá de uma chatice, absolutamente ridículos. E logo no dia 1 tivemos um espectáculo deprimente que deverá constar na história da política portuguesa: um debate entre Marcelo, Tino, um "orador motivacional" de óculos roxos e um candidato que se levantou e saiu do estúdio, uma anedota triste que corou de vergonha quem o viu.

Portugal é muito mais que esta pornochachada. Merecia muito mais, merecia melhor gente, merecia pelo menos uma ideia. Estas presidenciais são o grau zero da política, um convite à abstenção, um concurso de mister e miss nulidades. É um nada. Quarenta anos depois de Abril é triste.

PS: este é o meu primeiro texto de 2016 no meu blog. Desejo a todos os leitores um excelente 2016 e deixo o compromisso que tentarei escrever pelo menos um texto por dia por esta via, com a mesma liberdade que já vos habituei.