segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Sugestões para a semana

Livros

"O simpatizante", Viet Thanh Nguyen, Elsinore, 439 páginas. Um dos melhores livros do ano, vencedor do Pulitzer de ficção de 2016.Um regresso a Saigão, no tempo da guerra do Vietname e a história de um homem que era um espião, que acreditava na causa comunista e amava a cultura americana depois de ter estudado numa universidade dos EUA.

"O ministério da felicidade suprema", Arundhati Roy, 462 pág. Personagens deliciosos no regresso da autora de "O deus das pequenas coisas", tudo ligado pela construção e evolução da Índia actual que é sempre a grande personagem e não apenas o cenário.

"Fora do mundo", Michael Finkel, Elsinore, 200 pág. É quase um moderno "Walden", menos descritivo, de Thoreau. A saga de um homem que simplesmente decidiu afastar-se da civilização, onde era um tipo normal, para passar 27 anos numa floresta do Maine.

Cinema

Em sala, sugiro que aproveitem para ver nos últimos dias em exibição, "Dunkirk", do Christopher Nolan. No meio da porcaria que tem vindo de Hollywood, isto é um grande filme e a banda sonora, de Hans Zimmer, é completamente arrasadora; no Nimas, segue uma nova passagem (dedicaram um ciclo no ano passado) de obras do Ingmar Bergman.
Em casa, aproveitem para ver o mini-ciclo que a RTP 2 passa nas sextas a um dos maiores realizadores da história do cinema, e um dos meus favoritos, Kenji Mizoguchi. Já deram os "Contos da lua vaga", "Os Amantes Crucificados" e a "Rua da Vergonha". Esta sexta, ás 23,50h, "O Intendente Sansho".

Séries

No sábado termina a 5a temporada de House of Cards, no TVSeries. Na segunda termina a genial 7a temporada de A Guerra dos Tronos, no Syfi. Por isso, e actualmente em exibição - é sobre isto que são as minhas sugestões, sobre o que vai estrear ou estreou há pouco - anda no TVS a 5a temporada de Ray Donovan que é uma série negra soberba.
E a maior pérola de que ninguém fala, nem é promovida, anda na RTP1 ao sábado à meia-noite e chama-se "Quatro estações em Havana", baseada na personagem que ama os livros, Mario Conde, criada pelo fabuloso escritor cubano, Leonardo Padura, do qual recomendo a todos um dos melhores livros contemporâneos: "O Homem que gostava de cães".

Documentários

a RTP2 tem grandes documentários, alguns que passam á tarde. esta semana deixei a gravar Magnífica Itália, que é quase uma viagem por um dos mais belos países europeus. Todos os dias às 16.30h
No TVC 2, amanhã ás 18h, "Beatles: eight days a week". realizado com imagens entre 1963 e 1966, quando o quarteto de Liverpool deu mais de 250 concertos.

O que Cavaco vai ensinar aos jotas

O meu artigo no ECO que pode ler aqui.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

64: o número da vergonha do jornalismo português

Todos vimos o que se passou nesta semana. Um circo macabro, um ultrajante carrossel de tentativa de aproveitamento político da perda de vidas humanas. A política é das mais nobres actividades, mas é um nojo quando se faz com o sofrimento de famílias que já perderam tanto. Ninguém gostou do espectáculo, pedia-se sensatez e racionalidade, ao contrário, apareceram uns herdeiros de Nero com ânsias de ver Roma a arder.
Há muito por explicar e devem exigir-se todos os esclarecimentos, mas sem salivar sangue. A oposição será muito mais digna e dura se colocar as perguntas que todos os portugueses querem ver respondidas, porém, quando se vestem de agentes funerários perdem qualquer credibilidade que possam ter. E as figuras que se viram, foram execráveis.
Há uns tempos, tenho a certeza que se lembram de uma criatura de nome Baptista da Silva. Andou por jornais e principais programas de televisão como “especialista da ONU”, botou discurso, recebeu encómios e elogios de quem o projectou, afinal, era um burlão. Nicolau Santos, depois da ópera-bufa da qual foi um dos principais promotores, teve a honradez de pedir desculpa e disse mesmo que tinha sido «embarretado» (palavras dele).
Pois bem, a tragédia de Pedrógão Grande possibilitou mais duas situações anedóticas que puseram a credibilidade do jornalismo ao mesmo nível do da classe política, perto do zero. Primeiro, a notícia de que um avião espanhol de combate aos fogos tinha caído, o que era totalmente falso. Disseram que tinham fontes. Mas, meus caros amigos, quando um jornalista é enganado deliberadamente por uma fonte e esbate o seu compromisso de verdade com as suas audiências, não viola o seu código deontológico se denunciar quem com maldade o defraudou. E até hoje não vi denunciadas essas “fontes” mentirosas.
Depois, e profundamente lamentável, permitiram que uma senhora andasse por redacções, jornais e televisões com uma dita “lista da morte” e, sem verificarem nada como no caso de Baptista da Silva, não viram que é uma conhecida caloteira sem credibilidade a quem durante dias permitiram insinuações graves sobre o número de vítimas colaborando assim num combate político que morreu na praia, depois do comunicado da PGR que esclareceu taxativamente o número de 64 mortes que tinha sido anunciado, mais duas mortes por via indirecta e que estão a ser investigadas.
Quem acompanha os meus textos aqui no ECO, sabe como eu respeito a classe jornalística e como considero fulcral para as sociedades democráticas o seu papel. Mas depois disto tudo, quando vão pedir desculpas aos leitores e espectadores que enganaram? Como vai ser o comportamento dos media em crises futuras? É que não podemos perder a confiança na comunicação social, esse elo quando for cortado vai levar-nos a uma situação de faroeste mediático em que quem disparar mais rápido e falar mais grosso será o novo xerife. E desejo que nunca caiamos num trágico cenário desses.
Infelizmente foram 64 as vítimas directas do incêndio de Pedrógão Grande. Apanhados na fogueira da opinião pública – muito mais importante que a opinião publicada, relembro – estão também a imprensa, a televisão e a reputação de uma classe que tem uma das profissões mais bonitas e sérias que existe. O 64 é também o número da vergonha do jornalismo português, aqui, a culpa é só dos senhores jornalistas.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.

O meu artigo no ECO desta semana