terça-feira, 31 de março de 2015

A Primeira Dama de Marcelo Rebelo de Sousa

Primeira nota: a mim nada me interessam as preferências sexuais de um candidato, no momento em que faço conscientemente a minha escolha na altura de votar. Cada um é livre de gostar de quem quiser e não é isso que minimiza ninguém.

Segunda nota: há uma enorme hipocrisia na imprensa portuguesa. Para uns, para se ser candidato presidencial, tem de se ter uma Primeira Dama, uma família sólida e mais uma série de predicados da mulher que está ao seu lado. Para outros, isso não interessa e a imprensa faz de conta que não vê nada.

Lembro uma história recente: há uns dois meses, quando Pedro Santana Lopes deu apenas sinais que poderia ser candidato presidencial pela sua carreira e currículo, teve uma viagem a Itália com a sua companheira. Companheira, essa, com quem mantém relação sólida desde 2009. De imediato, surgiram rumores, interesse jornalístico e algumas notas que pretendiam ter humor sobre um alegado casamento à pressa para poder ter uma Primeira Dama e assim se candidatar a Belém.

Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa, que tal como Nicolas Sarkozy disse em tempos pensa muito mais de 5 vezes por dia em ser candidato presidencial, e, ele sim, é candidato a Presidente da República, nunca a imprensa se preocupou com a sua companheira, com o facto de não ser casado, com o desconhecimento geral sobre a sua vida pessoal, se frequenta festas ou não, e se o protocolo vai ter um problema por não haver uma Primeira Dama.

Eu não voto em Marcelo por ele não ter Primeira Dama. Julgo que é muito mais perigoso um desequilibrado sem currículo de decisão em Belém do que um casado, solteiro, homossexual ou divorciado. Porque para os estados civis ou gostos sexuais estou-me marimbando.

segunda-feira, 30 de março de 2015

As cozinhas dos políticos

Políticos darem entrevistas na cozinha das suas casas é algo que gera proximidade com os cidadãos, que faz passar a imagem de pessoas normais. É uma concessão deles aos seus consultores de comunicação e de imagem, que vêem desta maneira um momento para se poder gerar empatia com as pessoas que podem votar neles.

É um risco calculado e ensaiado, mas nunca deixa de ser, como já escrevi, uma concessão, uma grosseira invasão da privacidade. Em Inglaterra criou-se este momento comunicacional e, por acaso, a um mês das eleições gerais correu mal a coisa aos líderes dos dois partidos tradicionais.

Ed Miliband, líder do "Labour", figura excêntrica, que podia ter sido um personagem criado por Tim Burton, abriu as portas da sua cozinha humilde, pequena, e tomou um chá com a BBC. Uma divisão austera, sem luxos, comum a muitos britânicos. O problema é que se veio a saber que era a segunda cozinha da casa, era uma de apoio, e tinha outra muito mais ampla e com outras condições. Durante uma semana, comentou-se esta manobra.

David Cameron, ocupante do 10 de Downing Street, líder dos "Tories", decidiu também dar uma entrevista informal na sua cozinha da casa de campo, em Costwolds. Ali cometeu o erro político de lançar já três nomes para seus possíveis sucessores, pondo um assunto na mesa que só desvia o foco da sua agenda.

Quando os políticos são os próprios a abrir as portas da sua intimidade e privacidade, depois não se queixem que os media se preocupam com o que não interessa. Gerar empatia e criar a vaga ideia de proximidade não deve ser construída na cozinha. 

quinta-feira, 26 de março de 2015

A lista VIP do fisco

«A lista de contribuintes considerados VIP, cuja consulta de dados fiscais faria disparar automaticamente uma notificação para os serviços de auditoria, só tinha quatro nomes: o Presidente da República, o primeiro-ministro, o vice-primeiro-ministro e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. É esta a convicção do presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha», retiro esta notícia do DN.

É lamentável a lista VIP e é ainda mais lamentável que o secretário de Estado, Paulo Núncio, nela esteja incluído. A protecção contra o voyeurismo até podia ter boas intenções, agora quando se percebe que o envolvido pode ser o próprio Núncio e mais uns eleitos é inacreditável para a maior parte dos portugueses que tem sido vítima duma rapina total da máquina dos impostos.

Todos os dias esta dita lista VIP debilita o Governo e o responsável político tem um rosto. Há que tomar medidas duras.

segunda-feira, 23 de março de 2015

As histórias bem contadas

«O apetite por ler histórias bem contadas é maior que nunca»
Jill Abramson, ex-directora do "New York Times", ontem em entrevista à revista do "El Pais"

quarta-feira, 18 de março de 2015

Os cabelos brancos de Julio Isidro

As sociedades não se fazem só de gerontes, mas muito menos apenas se constroem com juventude. Em tudo na vida, o meio termo, o equilíbrio, é a razão do sucesso, da saúde e da vitalidade das mesmas.

Os cabelos brancos não são sintoma de velhice unicamente. São sinal de experiência, de maturidade, de capacidade de passar ensinamentos aos mais novos. Uma geração não deve arrasar nem afastar outra de maior idade. Nem vice-versa.

O caminho é para ser trilhado com inovação, experiência e, sobretudo, vontade de aprender. Ontem, Julio Isidro, aos 70 anos, deu uma prova de profissionalismo - e também de amor pela sua camisola da RTP - ao ser chamado em cima da hora para substituir os apresentadores da manhã da estação. Sem rede, de improviso, com a maturidade que tantas horas de palco e de câmaras lhe deram.

Como ele contou em directo, estava de pijama em casa quando lhe ligaram a pedir para tomar conta do programa. Como ele, há muito boa gente de cabelos brancos em casa, de pijama, que podia ser útil com a sua presença e o seu saber. É disto que uma sociedade não se pode esquecer. O meu tributo a um grande homem da televisão, um comunicador e profissional de excelência: Julio Isidro.

domingo, 15 de março de 2015

A mentira da política

- «É curioso, queria uma presidência honesta, totalmente transparente, e, um ano depois, começam os compromissos»
- «É o exercício do poder, Presidente»
- «Não, é a mentira, sempre. Procuramos proteger os nossos e mentimos. Depois mentimos porque já mentimos».

Os Influentes, brilhante série na RTP2

quinta-feira, 12 de março de 2015

A tourada das presidenciais e o circuito fechado dos políticos

A prova de que os políticos vivem em circuito fechado é a autêntica tourada em que se está a tornar a próxima eleição presidencial. A classe política portuguesa ainda não percebeu que as pessoas estão-se a marimbar para as presidenciais e olham para a coisa como se assistissem a um sorteio do euromilhões onde, ainda por cima, não há prémio em jogo.

Os portugueses querem ver os seus direitos reassumidos, querem voltar a ter mais dinheiro no bolso, querem menos aves de rapina nos impostos e querem o seu País e as suas terras bem geridas e bem cuidadas.

Presidenciais é um jogo de políticos, um cargo quase tornado irrelevante por Cavaco Silva e sem poder. Hoje, leio que Carvalho da Silva está disponível e Maria de Belém «alimenta incerteza». Mais dois nomes para engrandecer esta terrível batalha naval entre esquerda e direita, mas onde não há porta-aviões nem submarinos.

Só queria avisar que eu não quero ser candidato presidencial e o sr. Alberto da mercearia também não. E mais uns milhões de portugueses também não.

terça-feira, 10 de março de 2015

Uma lei do poder

«O poder é sempre perigoso. Atrai o pior. E corrompe o melhor»
Vikings 3ª temporada

segunda-feira, 9 de março de 2015

A RTP2, as séries e o "buzz" que conta

A RTP2 nos últimos tempos tem vindo a ganhar espectadores. Não é que seja novidade na sua grelha a aposta em séries, já o fez no passado e até com algumas pérolas (nomeadamente "Mad Men"), mas com menos consistência e com menos marketing.

Tudo virou com a estreia da muito comentada e excepcional série dinamarquesa Borgen. Com publicidade e marketing na imprensa e com o buzz criado por uma série de líderes de opinião nas redes sociais, a RTP2 ganhou público e criou uma fidelização, que tem vindo a crescer, para o horário das 22 horas e que se habituou a deparar com séries de qualidade de produção europeia.

Depois das três temporadas de Borgen, veio a espanhola "El Principe", também de excelente qualidade e com um tema muito actual, o terrorismo, e agora a magnífica série francesa "Os Influentes", de que também já tinha dado nota aqui neste blog.

A RTP2 ganhou assim um posicionamento de qualidade que lhe traz notoriedade e reputação. Sem esquecer que tem tido o apoio e a promoção das redes sociais., hoje em dia fundamentais na criação de um "buzz", um passa-palavra, que continua a ser a melhor arma da boa publicidade.

sábado, 7 de março de 2015

Truques de consultor de comunicação

 Consultor - «Nunca deixe o Matignon (Palácio onde trabalha o Primeiro-Ministro francês) de mãos vazias».
PM- «Tenho uma pasta»
Consultor - «Nunca se sabe o que tem dentro. Saia com uma pilha de dossiers, faça um ar assoberbado de quem não tem tempo para cuidar de si. Quando entrar no carro, diante das câmaras, ponha os óculos e deixe-se absorver pelos dossiers»
PM- «Eu uso lentes de contacto...»
Consultor- «Tirando o senhor, quem o sabe?»

Os Influentes. Todos os dias da semana 22h na RTP2

sexta-feira, 6 de março de 2015

A imagem não é tudo

«O importante é parecer que é uma pessoa melhor. Isso é que os eleitores admiram, a imagem»

Good Wife, 6ª temporada

quarta-feira, 4 de março de 2015

A autodestruição da classe política portuguesa

Pode um comum cidadão ter um atraso num pagamento das suas obrigações fiscais ou da segurança social? Claro que sim. Todos o fazem para enganar essas entidades? Não. Às vezes acontece, há esquecimentos, há desconhecimentos, há confusões. Estas são premissas que podem acontecer a um qualquer cidadão normal e comum.

Mas quando algo de semelhante acontece a um Primeiro-Ministro, todos sabemos que o tribunal popular não perdoa. E não perdoa por dois motivos: 1- Porque já aconteceram outras confusões semelhantes; 2- Porque este PM e este Governo impuseram um regime de austeridade com uma desenfreada caça ao fisco e uma vigilância apertada sobre as contribuições para a segurança social.

Todos os portugueses foram vítimas, todos os portugueses foram amassados nos seus rendimentos, nas suas reformas, nas suas pensões, em muitos direitos que o Estado tem vindo a trabalhar para apagar. Relembro ainda que muitas famílias, por dívidas fiscais e à segurança social, perderam a possibilidade de concessão aos seus filhos de bolsas de estudo.

Logo, é natural que a repercussão sobre o caso de Pedro Passos Coelho é enorme. Não há nenhum "voyeurismo" atroz sobre a sua família, mas sim, por um lado, o trabalho dos jornalistas que têm essa obrigação de controlo e de investigação dos que ocupam cargos públicos, porque a imprensa é uma garantia de liberdade e informação numa sociedade democrática; por outro, todos sabemos, sem ingenuidades, que quem anda à chuva, molha-se. Quem ocupa cargos na esfera do poder, está sujeito a uma marcação cerrada dos media e de uma constante atenção da opinião pública, ainda mais reforçada com o poder das redes sociais.

O Primeiro-Ministro errou. Diz que por desconhecimento. Mas desse juízo de culpa do tribunal popular tem hoje pouca margem de manobra para escapar. Tem direito a todos os mecanismos de defesa e a um trabalho de comunicação que garanta a sua reputação. Porém, partir para uma vitimização ou para uma operação de ligação de ventoinhas em que homens do seu partido e do seu gabinete propagam notícias antigas sobre o adversário - que inclusivamente já tinham sido desmentidas na altura - é levar toda a classe política para um pântano.

E hoje, como sabemos, a reputação da classe política já anda pelas ruas da amargura e uma crescente desconfiança das pessoas vem instalando-se, atingindo pessoas de bem, porque também as há, e muitas, entre quem faz política em Portugal. Esta é uma semana marcante para o exercício autofágico, de autodestruição, da classe política portuguesa. E tudo numa semana em que António Costa meteu um erro comunicacional no seu caminho ao dizer que hoje estamos melhor que há quatro anos. E parece que já ninguém se lembra disso, porque fomos inundados de porcaria.

domingo, 1 de março de 2015

Sugestões para a semana

Livros

"Hereges", Leonardo Padura, Porto Editora, 545 páginas. Eu adoro este escritor cubano que criou um detective que ama livros, e os compra e vende, para subsistir que se chama Mario Conde. Neste livro que assinala o seu regresso, um drama histórico com judeus que queriam entrar em Cuba durante o nazismo mas que não conseguiram entrar pela corrupção instalada e nem um Rembrandt os salvou. Depois é a investigação mas não é um policial normal, é apenas mais um grande livro de Padura de quem já recomendei uma das maravilhas dos últimos anos "O Homem que gostava de cães" (também da Porto Editora), sobre o assassino de Trostsky que é uma obra genial.

"O fim do poder", Moises Naim, Gradiva, 406 pág. Considerado o livro de 2013 pelo "financial times", uma deambulação bem fundamentada pelos poderes e pelo "establishment", religião, política, negócios, educação e como os micropoderes os podem desestruturar. Naim é venezuelano, um especialista em política internacional e escreve no El Pais, provavelmente, uma das melhores colunas de opinião sobre o que se passa no mundo. Habitualmente é um privilégio para quem o compra ao domingo, como eu.

"Galveston", Nic Pizzolato, Presença, 236 pág. O primeiro livro do criador e argumentista da brilhante série "True Detective". Mais uma vez conseguimos estabelecer empatia com o seu personagem principal, neste caso um criminoso e não um polícia. Para quem gostou da série, garante que não perde o seu tempo ao entrar na magnífica escrita de Pizzolato.

Cinema

Em casa, sábado, TVC2, a partir das 19.40h, dois filmes geniais de Michael Haneke: "O Laço Branco" e "Amor".
A comprar a bom preço, um grande clássico de Carol Reed, mas quem conhece a história do cinema sabe que ele é quase todo de Orson Welles, "O Terceiro Homem", sensacional película de espionagem durante a guerra fria com Welles e Joseph Cotten.

Documentários

No Arte, 3a, 19.50h, "Churchill, um gigante no século", uma biografia sobre um dos grandes líderes da história do mundo.
No TVC2, à mesma hora, "A mentira de Armstrong", sobre o lendário campeão da mentira do ciclismo Lance Armstrong

Série

A RTP2 está em grande momento. Depois de Borgen e de Príncipe, estreia na quinta às 22h, "Os Influentes". Trama política francesa que é uma das preferidas de françois Hollande.

Restaurante

Sushi Café, na Barata Salgueiro, para mim um dos melhores restaurantes, e ambientes, de comida japonesa de Lisboa.