Uma nota introdutória: não me dá prazer nenhum criticar o meu clube, mas quando o faço é porque entendo que algo está mal. Vivemos desde os tempos de Roquette no sortilégio de um silêncio que, para bem do clube no futuro, tem de acabar. Por isso, quando elogio o meu clube - e gostava que fosse sempre assim - me dá o dobro da satisfação.
Não vou falar da competência técnico-táctica de Sá Pinto, isso só o tempo o dirá, vou abordar os seus primeiros tempos de comunicação, os segmentos de público para quem fala e depois a sua acção no banco e fora dele.
É nos primeiros passos, no início de uma longa jornada que eu desejo longa, duradoura e de sucesso - que se constrói um perfil comunicacional. Na entrevista que dei ao Notícias do Futebol, ainda não sendo ele treinador, já o mencionava. E porquê?
Nos tempos modernos, um treinador não pode ser só um tipo que deu uns pontapés numa bola e que conhece o cheiro da relva e do balneário, ou um professor de educação física. Um treinador, para lá dos conhecimentos do futebol, tem de ter preparação em comunicação, marketing, liderança e dinâmica e organização de grupos.
Sá Pinto estudou outras valências da área desportiva, com o curso que tirou, e isso é de valorizar pois foram outras noções mais alargadas que adquiriu e lhe trazem benefícios para a profissão que decidiu abraçar.
Um treinador, nas suas intervenções no espaço mediático, fala para diversos públicos e cada segmento tem as suas "nuances". Reparem, um treinador fala para jogadores, direcção, adeptos, jornalistas e adversários. No meu entender, bem, Sá Pinto tem sido assim:
Para os jogadores: como um irmão mais velho, sempre a aplaudir, a dar indicações e no final do jogo a dar-lhes, individualmente, um abraço para agradecer o esforço que tiveram.
Para a direcção: sem mensagens, nem directas nem subliminares, pois a sua personalidade neste momento é a mais forte e mais respeitada do Sporting e apaga qualquer outra figura.
Para os adeptos: a passagem diária dos valores do leão, esforço, dedicação, devoção e glória. Pedindo apoio, mas nunca regateando uma palavra ou um gesto de agradecimento pelo apoio que todos os adeptos lhe dão e aos seus "irmãos mais novos", os jogadores.
Para os jornalistas: abertura e simpatia, pois o treinador deve ser um bom relações públicas. E sobretudo uma educação impecável que contrasta com aquela imagem belicosa que o marcou no passado. Um treinador não deve armar guerras com os jornalistas - isso é para a estrutura e comunicação - deve respeitá-los e trabalhar com eles. Se alguém pisar o risco, também sabe com o que conta.
Para os adversários: joga com a sua imagem de guerreiro em campo e fala sempre nos jogadores que «foram guerreiros» no final dos jogos. É uma mensagem subliminar de força, de que os seus homens deixam tudo em campo e estão sempre disponíveis para a batalha e para conquistas. O adversário não encara o Sporting, a priori, como um clube timorato e fácil.
No relvado, se assistirem aos jogos em Alvalade, Sá Pinto é um espectáculo no banco. E isso é comunicação com a equipa. Sá Pinto vive o jogo, motiva, bate palmas. Nota-se garra, protege e acarinha os jogadores. Tem aura, tem energia positiva, contrastando com o ex-treinador que bastava olhar para ele para se sentir o pânico e percebendo-se que não sabia o que devia fazer dava cabeçadas no banco.
Fora do relvado, Sá Pinto tem sido impecável, calmo e simpático. O melhor momento foi na flash-interview de ontem que vi gravada. O jornalista fala de bom futebol na 1a parte, Sá Pinto, quase emocionado, agradece: «muito obrigado pelo que diz pois os jogadores merecem». Isto, meus amigos, é 5 estrelas.
Sá Pinto está no coração dos adeptos, mas mostra que já ganhou os jogadores. Hoje li Capel: «estamos com ele até à morte». E li de Marcelo Boeck: «agora todos correm». Para se ser um grande treinador tem de se conquistar o grupo e saber comunicar. Até agora, Sá Pinto tem nota máxima em comunicação.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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É uma goleada que Sá Pinto dá em Domingos, em esforço, em dedicação, em devoção, e se o deixarem também o será em glória
ResponderEliminarBrilhante! Parece-me que descreve quase na perfeição o estado atual de Sá Pinto à frente do nosso Sporting.
ResponderEliminarNem mais, nota-se realmente que o Sá fez o trabalho de casa, ficou com uma herança bastante pesada de inverter, mas está a lutar e parece-me que muito bem, bastante prudente e com objectivos bem definidos. è estranho a forma que hoje vejo o Domingos alguém que aprecio como pessoa, mas realmente deixou um pouco a desejar como treinador...Vamos Sporting!!
ResponderEliminarLINDO
ResponderEliminaramigo Rui,tiraste-me muitos pensamentos da boca...esperemos que o Sá "pintas" continue a trilhar esta senda, iniciada com acerto...abraço leonino!!! Não estive de acordo com a forma como "ser humano" Domingos foi desrespeitado na sua dignidade, pela Direcção do Sporting, em especial pelo seu Presidente...mas, como o Rui, espero que o efeito "chicotada" se prolongue no tempo e cimente o Sá Pinto como treinador do Sporting ,emprestando respeito e estabilidade ao cargo, bem precisamos dele!!!
ResponderEliminarConcordo com a análise, quase a cem por cento.
ResponderEliminarDiscordo do parágrafo sobre a Direcção. Ninguém, por mais personalidade que tenha pode substituir a voz comunicacional da entidade (clube).Ninguém apaga ninguém.TODOS temos um papel mesmo quando nos silenciamos...
Parabéns pela reflexão!
Li e sei que é assim vamor ter treinador
ResponderEliminartemos jogadores a querer...
beijos