Os portugueses não gostam de pessoas desassombradas, que falem com frontalidade, que não tenham por inimiga a verdade. Os portugueses, quando vêem, ou lêem, alguém com este perfil, primeiro simpatizam, mas depois acham vaidoso, egocêntrico, arrogante, autoconfiante em demasia.
Porque o português, apesar de ser um povo simpático e comunicativo, tem um perfil baixo. Isto é, esteve muito tempo calado, é cauteloso por natureza, é pouco reactivo e contenta-se com pouco.
Os portugueses gostam de protagonistas silenciosos, que passem inadvertidamente entre os pingos da chuva, que durante uma vida nunca tenham esboçado uma ideia, que façam dos murmúrios o pequeno espaço da sua oratória.
Mas o que é certo, é que as personagens que tomam posições, que têm ideias, que não têm pudor de ofender o politicamente correcto, são aquelas que falam mais verdade, que são mais sérias, que são mais honestas.
Foi no tempo de um Primeiro-Ministro inculto, refém dos seus silêncios, que nunca teve uma ideia, e a quem a História fará o favor de corrigir a boa imagem que semeou, que se montaram as redes clientares de poder e corrupção do bloco central. Esta ideologia de umas sanguessugas, que ainda prolifera, chamou-se cavaquismo.
E é no silêncio que grassa a corrupção. Não é nos jornais nem nas redes sociais. É nos gabinetes, no silêncio dos gabinetes, onde um avental ou uma comissão, fazem milagres e se perpetua este pântano.
Um pântano onde empresas dirigidas por homens sem escrúpulos, sem espinha dorsal, se agacham e lambem os pés do poder rosa ou laranja consoante as circunstâncias.
Empresas que ninguém conhece, accionistas das mesmas encapotados, interesses escondidos. Apenas com um objectivo: sacar, nesse silêncio, sem dar nas vistas, sem ter opinião, discretamente, o mais possível com a conivência de redes clientelares de poder, onde hoje a Maçonaria ocupa papel importante.
É nestas sombras que navegam os crápulas. Aqueles que mais dia menos dia aparecerão em esquemas de corrupção e de favorecimento denunciados pelos media. Estes são os senhores do silêncio, aqueles que os portugueses mais gostam e acham que são os bons porque são os mais discretos, ninguém lhes conhece o rosto até ao dia...
Mas os maus não dormem em paz. A vida sem risco não faz sentido e é tempo dos portugueses perceberem que a exposição é inimiga do silêncio. A verdade é inimiga da corrupção. Os bons são honestos e os maus são pulhas.
terça-feira, 10 de abril de 2012
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