terça-feira, 28 de abril de 2015

O Fim do Homem Soviético

Livro muito interessante para compreender a passagem da União Soviética para Rússia. A esperança e desespero posterior com a Perestroika. Um país de gente que `tinha orgulho na União Soviética mas não gostava do comunismo. Um país de gente remediada com 90 rublos mas que agora com 20 dólares não compra nada.

Chama-se "O Fim do Homem Soviético", é dado à estampa pela Porto Editora, e é escrito por Svetlana Aleksievitch que constrói um puzzle de diversas opiniões de soviéticos/russos. Um caleidoscópio de emoções que retrata primorosamente a realidade, sem tratamentos de imagem, de um País que ainda está a aprender a sobreviver à ganância do capitalismo mas que mantém a soberba do império.

A opinião popular dos que se enamoraram de Gorbatchov mas que rapidamente acharam que ele devia ter sido julgado por matar um país, «vendendo-o por comida». Porque como ele dizia, «Não se pode continuar a viver assim».

Mas esqueceram-se de dizer uma coisa aos soviéticos: «ninguém lhes disse que íamos ter o capitalismo, pensavam que se começava a corrigir o socialismo, aquela vida soviética que todos conheciam. Enquanto nos comícios se esganiçavam: "Ieltsin, Ieltsin"- estavam a ser roubadas. Nas suas costas repartiram as fábricas, o petróleo e o gás- aquilo que como se diz, vem de Deus».

Nesse contraste com a actualidade, «a maioria das pessoas não tinha espírito antissoviético, só queriam uma coisa - viver bem. Que fosse possível comprar calças de ganga, um vídeo, e o sonho máximo, um automóvel. Todos queriam roupas coloridas, comida saborosa». Esta era a essência dessa Primavera de Gorbatchov, a esperança de uma vida melhor. Mas depois, o outro lado da página: «Em vez da pátria, um grande supermercado. Se a isto se chama liberdade, eu não quero esta liberdade».

Diz nessa construção de mosaico que é o excelente livro, Elena Iurievna, 49 anos, terceira secretária do comité distrital do partido: «Talvez daqui por 50 ou 100 anosse escreva com objectividade sobre essa nova vida a que chamávamos socialismo. Sem lágrimas nem maldições. Começarão a escavar como na antiga Tróia».

Talvez esses arqueólogos do tempo de transição URSS/Rússia comecem por tentar explicar que «comunista era aquele que lia Marx, o anticomunista era aquele que o compreendia». A ler, recomendo eu.

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