sábado, 19 de junho de 2010

Saramago

Como Saramago, vou ser polémico e politicamente incorrecto.

Aos que abandonam este mundo paz à sua alma. E como no magnífico texto de Henrique Monteiro, no Expresso, tenho a certeza que vai para o Céu. Porque Saramago disse que «Deus é um filho da puta», mas Deus, se existe, deve saber perdoar.

O «El Pais» numa página com fotos do escritor dá o título «De uma aldeia do Ribatejo à corte de Estocolmo». E isso é o pouco que tenho de simpatia por ele. A Azinhaga, concelho da Golegâ, terra da minha mãe e dos meus avós.

Nunca gostei da figura, não gosto dos seus livros e a partir de determinada altura tornou-se mais produto de marketing do que escritor. As suas quezílias sobre a religião podiam ser genuínas, mas que melhor forma de se promover, vender livros e conseguir soundbytes do que atacar Deus?

O editorial do DN de hoje é engraçadíssimo. Fala do tempo em que foi jornalista do mesmo, mas omite o saneamento de dezenas de jornalistas na redacção que dirigiu.

Adorei as prosas de Ferreira Fernandes, como sempre, e de Clara Ferreira Alves. Saramago será sempre uma referência da lusofonia, pois ganhou o Nobel negado historicamente à palavra escrita em português.

Um grande jornalista da nossa cultura, António Valdemar, diz que ele «é um escritor razoável e será lembrado por ser o primeiro Nobel da língua portuguesa. Faço parte dos que na Academia de Ciências escolheram Sofia ou Jorge Amado para o Nobel». Eu acrescentaria Lobo Antunes (como hoje relembra o próprio El País) ou a grande Agustina.

João de Melo fala que ele tem uma presença muito forte no imaginário espanhol e já vi hoje textos de Zapatero e Rajoy sobre ele. Saramago ficará em solo português, mas foi um escritor ibérico e universal, parecia muitas vezes envergonhado da Pátria que o viu nascer.

Paz á sua alma. Mas não sentirei a sua falta.

10 comentários:

  1. Saramago não gostava de Portugal, pois Portugal não gosta dos portugueses.
    O seu comentário apenas reflete isso mesmo...

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  2. Ele viveu em Paz. Não precisou de morrer para isso e vou ter muitas saudades. Grande Homem, só para apreciadores da excelência da Alma.

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  3. é uma pena que se lembrem de escrever sobre este tema agora. poderia inclusive estar de acordo, mas não me parece de todo conveniente escrever este tipo de coisas sobre alguém que não esta cá para se defender pela simples razão que morreu há pouquíssimo dias. lamentável.... é a minha opinião, e expresso agora, em tempo útil, não vou esperar a que morras.

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  4. Não costumo publicar comentários anónimos, mas estes era o que faltava se não publicasse.
    Para o último anónimo, que me deve odiar, deixo esta mensagem que o tranquiliza...
    Quando eu morrer, pode escrever mal de mim à vontade. Mas de preferência ponha o nome, pois senão passa por cobarde.
    Escreva o que quiser, mas não se esqueça do meu nome. É que é a diferença entre quem escreve e assina sem medo, e o cobarde, sem nome, que não tem personalidade.
    Uma boa noite e durma sem insónias. Eu vou dormir de consciência tranquila. O anónimo não.

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  5. Esqueces que tb condenou o terrorismo das FARC, nos antípodas de alguns dos seus camaradas do PCP, que rompeu com Fidel e "a revolução cubana" quando foram sumariamente executados em Havana 3 cubanos que tinham roubado um barco para fugir para Miami, que militou contra o terrorismo da ETA, que nunca se coibiu de estar contra o PCP quando lhe apeteceu, que agiu sempre em homem livre e não ardeu na fogueira que muitos pretenderam atear-lhe, a Santa Inquisição já não é o que era e falhou. Eu só o descobri a quando do Evangelho, pela perseguição que lhe fez Lara e Cavaco. "Convertido" me confesso, "devoto" de Saramago, que era/continuará a ser dos poucos que merecia/merece ser lido em voz em alta, prosador "fulgurante" como não tivemos outro desde Eça de Queiroz. Lamento, Rui Calafate. Devias ler o que disse de Saramago Mariano Rajoy no El País.

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  6. Ao menos foi (vai ser) cremado.
    Assim, não envenena as milhões de seres vivos que dele se haviam de alimentar!
    Ele não tinha paz, muito menos alma.
    Ortanto, essa frase é absolutamente inadequada para tal "coisa"
    Sobre o Diário de Notícias... sempre foi a voz do poder em vigor!

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  7. repara, não tenho vergonha do que escrevi. é a minha opinião. nunca fui o maior fã de saramago, mas realmente acho que foi a pior altura possivel para lançar este post. dormi muito bem acredita. escrevi em anónimo porque não tinha a certeza se havia que ter conta aberta para postar com nome. o meu nome é rui grenha.
    vejo que és experto em juizos de valor...

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  8. Joaquim Leitão20/6/10 13:29

    Meu caro Rui. Partilho em tudo o que disseste. Saramago morreu. Para o mundo das letras acredito que tenha morrido um grande escritor, se bem que eu não goste da sua escrita. Mas Saramago era também um homem, e como homem tinha o seu caracter , ou muitas vezes a falta dele.
    Neste País tem-se por hábito elogiar quem morre e nesse altura "esquece-se" de muita coisa.
    Hoje elogiaram-no os comunistas e bloquistas, os intelectuais e pseudo-intelectuais , os politicos oportunistas que nunca comungaram das ideias de Saramago.
    Cheguei a ouvir jornalistas a dizer que morreu o unico nobel Português. E Egas Moniz?.
    Cheguei a ver jornalistas de um canal de tv a dizer em directo que estavam milhares de pessoas. Por acaso noutro canal e no mesmo momento, filmaram de cima e estavam cerca de 300 pessoas.
    Enfim, somos o País que somos e com muita hipocrisia politica.
    Para ti Rui um abraço de quem tem nome-
    Joaquim Leitão

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  9. Caro José Teles
    Por acaso li logo o Rajoy no El País no sábado de manhã.
    Respeito todas as opiniões, as consentâneas com as minhas, bem como as que são divergentes. Por o Saramago ser polémico decidi publicar todos os comentários, mesmo os anónimos, que não costumo fazer. Era uma maneira de dar palavra aos seus apaniguados, que tb são muitos.
    Abço

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  10. José Saramago não era menos português por não pôr a bandeira à janela na véspera de um evento desportivo. Acima de tudo, a sua essência era ibérica. Convém dizer que só saiu de Portugal devido à ostracização de Sousa Lara, comprovada agora com o episódio político revisionista da não presença de Cavaco Silva no seu funeral. "Viagem a Portugal" é reflexo de amor e do encantamento que sentia pelo país, pela sua beleza e cultura, pela classe trabalhadora, espelhada na sua identidade, mesmo que isso significasse ir contra a ideologia do seu partido, contra a maioria religiosa, contra o politicamente correcto. Para o seu espírito inconformado, a morte é pouco relevante. Como diria Saramago, "o fim duma viagem é apenas o começo de outra".

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