domingo, 5 de fevereiro de 2012

Domingos criou a sua própria fogueira com má comunicação

Domingos Paciência foi responsável por momentos de grande futebol como há muito tempo já não se via em Alvalade. Depois, e mesmo não esquecendo lesões e erros de arbitragem, têm sido decepções atrás de decepções, futebol com pouca intensidade e sinais notórios de falta de liderança e desnorte comunicacional.

Esta semana, Domingos falou quase todos os dias e não falou bem. Tenho pena que não conheça a série "Mad Men", pois, por certo, lá pela terceira temporada, tinha deparado com esta frase: «o meu papel é reduzir a comunicação ao essencial».

É humilhante para um jogador ver o seu líder a revelar que ele treinava com cordas; é desagradável para a direcção e SAD ver o teinador queixar-se que os jogadores chegaram a conta-gotas´; é lamentável ver um líder dizer que ao fim de seis meses de trabalho ainda não conhece bem todos os jogadores.

Esta última frase é para mim muito significativa. Pois como dizia o prof. Abel Salazar: «um médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe». E um treinador não pode só perceber de bola. É um líder, e como qualquer líder, tem de conhecer a natureza humana. Ao fim de seis meses dizer que não conhece bem todos os jogadores, é demonstrativo que não controla o grupo.

Não me falem de equipa em construção, como desculpa, pois o próprio Braga está a passar o mesmo processo e está a passar muito melhor. Domingos cometeu diversos erros, nomeadamente, ao apostar de rajada nos jogadores recém-chegados (Renato Neto, Ribas), mas que passados poucos jogos já não jogam, como ontem se constatou. E isso desequilibra um balneário.

E Domingos tem de falar verdade. O Sporting tem muito melhores jogadores que o ano passado, mas os resultados não têm sido muito diferentes. E a massa adepta tem sido muito tolerante com ele. E há algo que me choca: as constantes lesões musculares dos jogadores. Que não são culpa do departamento médico, mas sim do tipo de preparação física que é ministrada pela equipa de Domingos. E salta à vista, que é deficitária.

Houve muita gente que gostou daquela conferência de imprensa de Domingos em que falou muito emocionado. Quem assim gostou, viu mal a coisa, eu, por exemplo, não gostei nada. Vi, naquele momento, um homem transtornado e que perdeu o seu controlo emocional.

O "personal branding" de Domingos é de perfil baixo. Habitualmente calmo, racional, sensato, ponderado, discreto. Não há "brandings" maus. Há, sim, com diferentes perfis. O que abre brechas num "brand" é a incongruência e a ruptura com o perfil traçado e construído durante o tempo.

Aquela emocional conferência de imprensa em que atacou os «médicos e fadistas» marcou essa ruptura com o seu "personal branding", em que demonstrou sinais evidentes de falta de liderança e de perda de uma narrativa no universo comunicacional.

Domingos está fraco e a perder apoios, mas foi ele que deu mecha à fogueira em que será incinerado. Não lhe desejo isso, mas não há bons treinadores sem resultados. E a vida de treinador é sempre a de elo mais fraco.

1 comentário:

  1. Caríssimo amigo,
    O meu aplauso e absoluta concordância para este excelente artigo.
    Custa admiti-lo, mas o rei vai messmo nú!...
    Saúdo a sua coragem e o seu sportinguismo.
    Com amizade, um grande abraço

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