Pode um comum cidadão ter um atraso num pagamento das suas obrigações fiscais ou da segurança social? Claro que sim. Todos o fazem para enganar essas entidades? Não. Às vezes acontece, há esquecimentos, há desconhecimentos, há confusões. Estas são premissas que podem acontecer a um qualquer cidadão normal e comum.
Mas quando algo de semelhante acontece a um Primeiro-Ministro, todos sabemos que o tribunal popular não perdoa. E não perdoa por dois motivos: 1- Porque já aconteceram outras confusões semelhantes; 2- Porque este PM e este Governo impuseram um regime de austeridade com uma desenfreada caça ao fisco e uma vigilância apertada sobre as contribuições para a segurança social.
Todos os portugueses foram vítimas, todos os portugueses foram amassados nos seus rendimentos, nas suas reformas, nas suas pensões, em muitos direitos que o Estado tem vindo a trabalhar para apagar. Relembro ainda que muitas famílias, por dívidas fiscais e à segurança social, perderam a possibilidade de concessão aos seus filhos de bolsas de estudo.
Logo, é natural que a repercussão sobre o caso de Pedro Passos Coelho é enorme. Não há nenhum "voyeurismo" atroz sobre a sua família, mas sim, por um lado, o trabalho dos jornalistas que têm essa obrigação de controlo e de investigação dos que ocupam cargos públicos, porque a imprensa é uma garantia de liberdade e informação numa sociedade democrática; por outro, todos sabemos, sem ingenuidades, que quem anda à chuva, molha-se. Quem ocupa cargos na esfera do poder, está sujeito a uma marcação cerrada dos media e de uma constante atenção da opinião pública, ainda mais reforçada com o poder das redes sociais.
O Primeiro-Ministro errou. Diz que por desconhecimento. Mas desse juízo de culpa do tribunal popular tem hoje pouca margem de manobra para escapar. Tem direito a todos os mecanismos de defesa e a um trabalho de comunicação que garanta a sua reputação. Porém, partir para uma vitimização ou para uma operação de ligação de ventoinhas em que homens do seu partido e do seu gabinete propagam notícias antigas sobre o adversário - que inclusivamente já tinham sido desmentidas na altura - é levar toda a classe política para um pântano.
E hoje, como sabemos, a reputação da classe política já anda pelas ruas da amargura e uma crescente desconfiança das pessoas vem instalando-se, atingindo pessoas de bem, porque também as há, e muitas, entre quem faz política em Portugal. Esta é uma semana marcante para o exercício autofágico, de autodestruição, da classe política portuguesa. E tudo numa semana em que António Costa meteu um erro comunicacional no seu caminho ao dizer que hoje estamos melhor que há quatro anos. E parece que já ninguém se lembra disso, porque fomos inundados de porcaria.
quarta-feira, 4 de março de 2015
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