Porque se há algo que semeia a instabilidade e a revolta das pessoas contra um regime, contra a classe política, contra instituições que devem ser impolutas, é vermos todos os dias o clima de impunidade que abrange uma série de criaturas que mata empresas, se serve dos cargos que ocupa para depois, ou durante, enriquecer.
É a corrupção que vai corroendo os alicerces da democracia, é a desconfiança com os detentores de cargos públicos que semeia o afastamento de eleitores e eleitos e constrói os elevados índices de rejeição de uma actividade, a política, que é nobre e deve servir para a melhoria da comunidade.
Temos 43 anos de liberdade e isso é uma conquista excepcional que devemos celebrar todos os dias. Eu acredito na política, eu acredito nas pessoas de bem — mas são cada vez mais um oásis no deserto — que trabalham tendo em vista o bem público e o crescimento a todos os níveis da sociedade.
Porém, não convivo bem com corruptos e especialistas em “dar uma palavrinha” que fizeram do que se conquistou com o 25 de Abril no seu parque de diversões do Monopólio, tornando-se milionários, com os portugueses a pagarem sucessivamente todas as aleivosias, todos os erros de gestão, todas as dívidas de bancos que serviram para negócios especulativos de alguns marajás.
Escrevia o Nuno Garoupa, um dos bons, na semana passada que “ninguém pode fingir que Portugal é um oásis sem corrupção, sem gestão danosa, sem tráfico de influências e sem grande criminalidade de colarinho branco”. Pois não pode. Porque é isto tudo que mina os valores de Abril.
O problema é que, “mea culpa” também, todos nós contemporizámos para esta impunidade vigente. Nunca ninguém se revoltou a sério. Porque só com barulho se combate a corrupção, que navega melhor no silêncio da lama, nos murmúrios das salas sem alma, nos favores debaixo do pano.
A partidocracia, os aparelhos partidários de gente que cresce ali sem nada saber fazer na vida, o financiamento de campanhas eleitorais, são a seiva de onde florescem corruptores e corruptos e que causam o sangramento da democracia e da liberdade.
Devemos estar todos gratos aos capitães de Abril pela liberdade em que vivemos, mas o ar que respiramos não é o desse dia histórico, é perverso e cheira a mofo pelo perfume da impunidade. A corrupção não pode matar a esperança do dia seguinte. Salgueiro Maia não merecia o 26 de Abril.
Sem comentários:
Enviar um comentário