terça-feira, 15 de novembro de 2011

"Nos Idos de Março"

Um filme político, com políticos, estrategas e directores de comunicação é daqueles que não podia falhar. O filme não é grande coisa, mas tem diálogos fantásticos e actores sumptuosos.

O filme de George Clooney é um tratado sobre a natureza humana, que tem por fundo uma campanha política. Um jovem director de imprensa idealista, rodeado pelos lobos marcados pela realidade das mesmas campanhas políticas.

O cinismo entre «campaign managers», logo quando Phillip Seymour Hoffman e Paul Giamatti trocam cumprimentos ao longe durante o debate dos candidatos, rivais que se odeiam cordialmente.

Quando Ryan Gosling, o jovem idealista, é elogiado por Giamatti, diz-se tudo sobre a figura de um director de comunicação de uma campanha: «sempre alerta, aos gestos, às palavras». É assim que se deve trabalhar. O assessor de um candidato está a velar todos os segundos, ao pormenor, por ele, nada pode causar dispersão.

Um director/assessor numa campanha tem de ter na sua cabeça o estado de espírito de um assassino profissional, apenas com um objectivo: conseguir o melhor resultado possível para o seu candidato. E tem de ser "matador". Se quer ir para o céu, que vá para o convento, nunca para uma campanha.

E fala-se da «única moeda que conta na política»: «a lealdade». Ao primeiro sinal de deslealdade, esvai-se a confiança que os candidatos têm de ter em nós. Quem é leal como forma de vida, será sempre recompensado e mesmo os adversários reconhecem essa característica pessoal e de carácter.

E outra máxima e verdade para tudo na vida, quando se referiam a um dos talentos de Gosling: «a habilidade das pessoas te respeitarem, confundindo o que te temem com o que te amam».

O filme chama-se "Nos Idos de Março" e isso remete historicamente para traição. Pois foi nos Idos de Março que foi assassinado Júlio César e o filme tem diversas manobras maquiavélicas e traições.

E depois o último plano magistral, o da cara do jovem Gosling que de idealista já está transformado pelo cinismo da política. Quando houve as palavras de Mike Morris, o seu candidato, «dignidade» e «integridade», elas que ele sabe pouco contarem para o candidato que era o seu ídolo.

Lembrei-me de um livro que recomendei há semanas: «Império», de Steven Saylor, sobre a história de Roma. Cito esta passagem: «Moves-te entre estas pessoas como um tratador de cobras egípcio se move entre as serpentes. Podem não te ter mordido, mas, ainda assim, o seu veneno contaminou-te». O jovem idealista termina contaminado, é o drama maior da natureza humana.

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