No mundo actual, há um frémito quase global pela partilha de "selfies". Parece um sintoma de que muitos desconhecidos adoravam ser famosos e a publicação dessas imagens abate um pouco o sonho não alcançado de ter 15 minutos de fama.
Depois, há os mais famosos que assentam a sua marca, a sua vida, na exposição quase diária das suas actividades. É quase um "reality show" pessoal que lhes dá o palco e lhes garante contratos publicitários e o reconhecimento de muitos milhões.
Mas, neste mundo de famosos e dos que queriam ser famosos, também há os que se preservam e pouco partilham e ainda há os que optam por permanecer quase anónimos por vontade própria e exclusiva.
Elena Ferrante é provavelmente a escritora mais citada em 2016. Quem já leu a sua tetralogia de Nápoles, é o meu caso, viu a genialidade de uso de todos os mecanismos da prosa, leu, e teve prazer, a arte de saber contar uma história de duas amigas e a sua evolução ao longo da vida.
Pois bem, Elena Ferrante, todos sabem, é um pseudónimo. Assim decidiu ela no seu livre arbítrio e nunca se expôs e as entrevistas que deu por exigência da editora foram sempre por escrito, através de mail. Tem esta mulher direito à sua privacidade? Tem.
O problema é que uma longa investigação veio expor a verdadeira identidade da autora e, de imediato, regressou o debate sobre o público e o privado. A meu ver, pode haver interesse de muita gente em a conhecer, mas ela está no direito de querer apenas escrever e viver uma vida de anonimato, sem ter o afã por aparecer ou tirar "selfies".
O mais importante é lerem-na porque os quatro livros da "Amiga Genial"são absolutamente geniais. E no meio de tanto barulho, de tanto falso "glamour", de tanto "flash", de tanta "selfie", +e bom observar como ainda há alguém que se refugia no silêncio e se protege no seu castelo de privacidade.
terça-feira, 4 de outubro de 2016
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