Há muitos anos, durante a crise do vestido azul de Monica Lewinsky, numa coluna de opinião sobre política internacional que mantinha no Semanário, chamei Hillary de "Lady Macbeth", a mulher que encarnou a perfídia pelo poder escrita pelo autor que ao longo dos tempos melhor percebeu a natureza humana: William Shakespeare.
Hillary é uma mulher preparada, inteligente, mas gosta muito mais do poder do que o marido Bill, um grande presidente americano. Hillary tem características de liderança, tem o "killer-instinct" de um candidato, mas, apenas e só, as pessoas não gostam dela, melhor, não confiam nela. Hillary é a candidata que tem tudo para ganhar, mas é fria, não transpira emoção, não tem paixão nem apaixona.
Por isso, qualquer pessoa que esteja a acompanhar regularmente a campanha americana, e não tenha apenas despertado para o assunto no debate desta noite, tenha reparado que ela, sempre que entrava num palco, abria muito a cara para a plateia, sorria muito, dizia muito adeus para as pessoas, tentando criar uma ligação, uma empatia, que, naturalmente, não consegue transmitir porque os americanos não gostam dela e, em 2008, nem um tipo genial como o Mark Penn, seu estratega de campanha, e maior especialista em «micro trends» do mundo, conseguiu dar a volta a isso. E, em 2016, nada mudou.
Donald Trump apenas é a voz dos americanos que nunca puderam dizer nada na cara da classe política e, isso, nos dias de hoje tem mais valor do que se pensa, num mundo onde todos, inclusive idiotas, têm tribunas nas redes sociais onde podem dizer todos os disparates do mundo.
Trump tem mais apoio do que se pensa, há muita gente que diz que vota nele em surdina mas que não o assume em público porque parece mal e é politicamente incorrecto. E nestas eleições os europeus não votam e os americanos nada têm a ver com os cidadãos do nosso continente. E as sondagens assim o dizem, quando demonstram quase, neste momento, um empate técnico entre eles.
Trump não tem preparação, verdade. É um monte de ideias ao molhe, sem estarem sistematizadas. Mente, é politicamente incorrecto, mas os americanos percebem o que diz porque tem duas ou três ideias fortes que caem no goto duma sociedade quase analfabeta. Porque Nova Iorque, Boston, são ilhas na realidade de um território díspar.
Ambos são os candidatos menos populares da história das campanhas eleitorais americanas. O mundo assustado por uma série de disparates globais tem medo de Trump, mas vê apenas Hillary como um mal menor. Em qualquer dos casos o mundo será completamente diferente, em qualquer dos casos o mundo não será mais tranquilo.
terça-feira, 27 de setembro de 2016
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário