sábado, 28 de fevereiro de 2015

A vergonha de Zeinal Bava na CPI do BES

Sobre a vergonhosa ida e passagem de Zeinal Bava pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao BES quero deixar algumas notas:

1- A opção por ir sozinho - Zeinal Bava não levou advogado nem assessor. Quis criar a percepção que nada tinha a esconder, que não é visado em nada, que era um tipo limpo ao contrário de todos que lá foram. Deu-se mal com a opção. Porque qualquer medíocre advogado ou medíocre assessor lhe diriam que devia responder a todas as perguntas sem aquele sorrisinho idiota que ostentou sempre que falava.

2- A percepção errada que tem da sua própria pessoa - Zeinal não é hoje um homem poderoso, é apenas o gestor que matou a maior empresa portuguesa e a desvalorizou ao nível de uma caricatura. Logo, ao contrário da sua percepção errada, não é uma personagem popular, os deputados que ali estavam não lhe têm nenhuma consideração, os portugueses estão enojados com as suas acções. E mais: hoje ele já não tem orçamento para comprar páginas de publicidade nem tem opinion makers rendidos à sua acção.

3- Os prémios que lhe deram tanto jeito - Como relembrou bem a Mariana Mortágua, tanto prémio para melhor CEO de Portugal, Europa, Universo e além do espaço sideral, para demonstrar em plena CPI um amadorismo atroz, uma comunicação medíocre. Quando ganhou os prémios isso dava jeito, na CPI já comentava que isso não era bem assim. Uma prova que há muitos prémios comprados e comendas e sinecuras mal atribuídos, nomeadamente a que lehe deram no 10 de Junho e que já lhe devia ter sido retirada.

4- As "brasileirices" - Julgo que Zeinal é cidadão português, mas durante a CPI várias vezes utilizou expressões em brasileiro. É uma falta de respeito com o País que é o dele, lhe deu tudo, estatuto, dinheiro e poder, e ainda lhe deu a pouca vergonha de apesar de matar a PT ainda exigir 2 milhões à empresa. Isto também deve ser uma brasileirice.

5- Não sei, não vi, não estava lá - Passámos todos a saber que um CEO poderoso e premiado não dava ordens, não sabia de nada. Tudo lhe passava ao lado. Ao fim e ao cabo, Zeinal foi à CPI dizer que era um banana. Triste espectáculo.

6- Os detalhes de Zeinal - Para mim a grande tirada é quando ele diz: «sou uma pessoa orientada para o detalhe». Logo, os grandes números, as grandes decisões não eram com ele. porque ele é tipo de "detalhes". Assim, as expressões utilizadas como "não consigo precisar", "não tenho memória", "não lhe consigo responder", "não sei", todas as perguntas que lhe colocaram e ele a nada respondeu devem ser porque não são da área dos "detalhes". Porque Zeinal era apenas um génio do "detalhe".

7- A Sinhá de Chico Buarque - Como Zeinal recorreu a expressões brasileiras, eu recorro a uma canção, "Sinhá", de Chico Buarque que diz tudo com esta passagem:

"Se a dona se banhou
Eu não estava lá
Por Deus Nosso Senhor
Eu não olhei Sinhá
Estava lá na roça
Sou de olhar ninguém
Não tenho mais cobiça
Nem enxergo bem"

Concluindo: uma vergonha, um desastre, uma mediocridade, que diz muito sobre os grandes gestores apaparicados pelos media. Um cavalheiro, não cavaleiro, de triste figura. E com aquele sorriso idiota estampado no rosto.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Pode o PSD ganhar as legislativas?

Poder, pode, mas continuo a achar difícil. Não porque a alternativa esteja a encantar, mas porque o cansaço é mais forte. O PSD/CDS pode apontar a recuperação de dados macroeconómicos, mas as pessoas foram esquecidas neste caminho penoso de quatro anos.

Delfim Netto, ex-ministro de várias pastas na ditadura brasileira, tem para mim uma tirada que é a base de qualquer eleição: «o órgão mais sensível do corpo humano é o bolso». E não podemos nunca esquecer que o segmento de eleitores que mais participa numa eleição, são os mais velhos. E, esses, não esquecem a delapidação das suas poupanças e o assalto a pensões e reformas que aconteceram com este Governo.

Por isso digo que a provável vitória de António Costa não vem das suas propostas nem da sua capacidade de fazer sonhar, mas sim de um cansaço e desencanto de muita gente que não esquece o que custaram estes quatro anos.

Pode a maioria dizer que esta perspectiva é injusta, pois agarrou num barco completamente à beira de um abismo, mas o eleitor quando vota, naquele momento de solidão com a sua consciência, vota com base em múltiplos factores mas, sobretudo, com a racionalidade do seu bolso.

E isto, apesar de um dos maiores erros comunicacionais que vi nos últimos anos, com a declaração de António Costa de que Portugal está melhor do que há quatro anos atrás. O PS posiciona-se à espera que o poder lhe caia nas mãos e o seu líder até agora nada disse ou diz diversas coisas consoante a audiência.

O Governo está desgastado, o PS ainda tem a herança de Sócrates. São estes os dois pontos em confronto nas próximas legislativas. Mas ambos, maioria e PS, precisam de se refrescar. Colocar outras peças, e mais jovens, no combate. O PSD tem jovens com valor: o António Leitão Amaro, o Duarte Marques, a Constança Martins da Cunha, o Sérgio Azevedo, o Pedro Rodrigues, o Diogo Agostinho a quem tem de dar palco. O PS tem uma geração 35/45 já mais bem posicionada: João Tiago Silveira, Duarte Cordeiro, Pedro Nuno Santos, Graça Fonseca, entre outros, naturalmente, não quero ser exaustivo.

O afastamento das pessoas com a política e com os políticos, para lá da sensação de que nada muda e há um desgoverno implícito ou incapacidade de se ultrapassarem os problemas, passa por serem sempre os mesmos, as mesmas caras, o mesmo discurso, uma retórica cansativa e antiquada. As fórmulas actuais estão gastas, as soluções cheiram a mofo, é urgente que se pense um País melhor, com mais gente de mérito e fora dos partidos. Porque o risco é que nunca mais Portugal tenha esperança.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A natureza da política

- «Sou má a pedir coisas. Não gosto de pedir»
- «Alicia, a natureza desse trabalho é pedir coisas. Votos, dinheiro, ajuda. É um talento. É assim com que os políticos fazem com que as pessoas os adorem. Não é dando, é pedindo alguma coisa».

Good Wife, 6ª temporada

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A coisa mais importante que nos pertence

«Só vale a pena militar na tribo que escolhemos livremente. Porque, se existe a possibilidade de, a ter existido, até Deus ter morrido, e a certeza de que tantos messias acabaram por se transformar em manipuladores, a única coisa que nos resta, a única coisa que na realidade nos pertence, é a nossa liberdade de escolha. Para vender um quadro ou doá-lo a um museu. Para pertencer ou deixar de pertencer. Para acreditar ou não acreditar. Até para viver ou morrer».

Leonardo Padura, "Hereges", Porto Editora

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O País deixou de sonhar

«O País deixou de sonhar. O actual espírito europeu que transformou a União Europeia numa empresa comercial estável, governada por balancetes, esse espírito contabilístico entrou totalmente na governação em Portugal».
Miguel Real, ontem no Público

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Manuela Ferreira Leite é um cavaquismo de saias

Que é uma mulher séria não tenho dúvidas, mas quando lançaram o nome de Manuela Ferreira Leite para Belém fiquei atónito. Há muito que Portugal tem uma múmia como Presidente e Manuela rege-se pela mesma cartilha de Cavaco Silva.

Portugal está cheio de amanuenses na política, ela é apenas mais uma. Seria o prolongamento de um cavaquismo de saias. Não precisamos de retrocessos nem de contabilistas. Precisamos de políticos com rasgo, com sensibilidade cultural e com uma ampla visão do mundo.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Um jornal e não um telejornal

Comprem pelo menos um jornal de informação geral, ele ajuda a enquadrar a vossa visão do mundo e dá-vos conhecimento. Agora, abdiquem de ver um jornal televisivo de prime-time. Não aprendem nada, apenas histórias da carochinha, desgraças, bola, restaurantes. São deprimentes os telejornais portugueses.