terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dilma/Serra: A segunda volta no Brasil

Dilma Roussef não conseguiu aquilo que nem o seu protector, Lula, conseguiu: vencer à primeira volta.

Dilma é fraquíssima, nunca tinha concorrido a nada, está mal preparada, não disse nada sobre como governará e apoiou-se apenas na popularidade do Presidente Lula. É um produto de marketing puro, um sabonete bem vendido por especialistas, basta ver a evolução da sua imagem para ver como é um joguete nas mãos de publicitários.

José Serra grande ministro da Saúde de Fernando henrique Cardoso, magnífico governador de S. Paulo fez uma campanha fraquíssima, entediante, sem entusiasmo e sem máquina popular de apoio.

Marina Silva foi a grande vencedora e será o fiel da balança com os 19% que obteve. A canção da sua campanha foi: «ela é da Silva/ela é da selva/ela é Marina/a gente é ela», conseguindo juventude e o apoio das classes mais elitistas.

Dilma continua favorita mas há algo que não podemos esquecer. Um candidato que tenha vitória em S. Paulo e Minas Gerais é muito dificilmente batido. Ora, o PSDB de Serra ganhou para o governo estadual no 1º turno em S. Paulo com Geraldo Alckmin (contra Aloizio Mercadante um nome forte do PT) e em Minas com António Anastasia (derrotou Hélio Costa do PT que chegou a assustar o PSDB e obrigou o governador cessante, o meu político brasileiro preferido, melhor candidato que Serra nesta eleição se o fosse, Aécio Neves, o político brasileiro mais popular depois de Lula, a fazer uma campanha notável levando o seu protegido Anastasia a uma boa vitória).

O PSDB conseguiu ainda Paraná, com Beto Richta, Pará, Tocatins e os seus aliados do DEM (ex-PFL) conseguiram vitórias no Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

O PT que teve como candidato a vice na chapa de Dilma, Michel Temer do PMDB o mais importante e forte partido brasileiro, conseguiu duas retumbantes vitórias na Baía e Rio Grande do Sul e os seus aliados do PSB ganharam Rio de Janeiro (Sérgio cabral é popularíssimo), Pernanbuco (a maior vitória estadual foi a de Eduardo Campos) e Ceará. O PMDB manteve a família Sarney, Roseana, no Maranhão.

Assim, Serra terá agora dois cabos eleitorais fortíssimos: Alckmin e Aécio mas terá de fazer o seguinte: tem de atacar os casos de corrupção da entourage de Lula e Dilma. Pode elogiar suavemente o trabalho de Lula e alguns resultados, mas deve lembrar que Lula está a "surfar" nos indicadores económicos que Fernando Henrique Cardoso preparou com as suas reformas.

Serra tem uma figura mediaticamente difícil de melhorar, mas deve jogar a sua seriedade e credibilidade contra a tropa fandanga do PT que se popularizou com a corrupção, o mensalão, os dólares nas meias e cuecas. Deve dizer que Erenice, Dirceu, Delúbio não fazem parte da sua equipa. Que tem uma equipa dinâmica (para disfarçar a sua imagem mais pesada, daí também ter escolhido para vice um jovem) e bem preparada.

Por último, Serra tem de mostrar mais entusiasmo, o PSDB que é um partido de notáveis tem de contratar mais juventude e mais barulho para dar maior animação, e Serra, que é hipocondríaco e tem horror ao contacto com as multidões, não pode deixar passar que se faz acompanhar de um frasco de desinfectante para lavar as mãos depois dos contactos.

Os brasileiros gostam de samba, do toque, da familiaridade, do cumprimento. Serra tem de ser mais popular. Serra tem de ter muitas vezes ao seu lado Aécio e tem de atacar e recuperar no Rio de Janeiro e Porto Alegre. Aí o PV, partido de Marina, pode dar uma ajuda se Fernando Gabeira o apoiar no Rio. Na Baía o DEM tem de pôr a máquina da família de Magalhães a actuar forte e em Pernanbuco e no Nordeste não vai fazer nada, pois Lula e o PT por aí comandam.

E para terminar tem de concretizar o namoro com Marina Silva. Ainda ontem Serra lembrava que o PV sempre o apoiou em S. Paulo e Marina odeia de morte Dilma e saíu magoada do PT. Se ela apoiasse o PT os seus apoiantes não a perdoavam. Julgo que ela ficará neutra, mas os seus apoiantes não irão para Dilma. vai ser boa e vai aumentar a temperatura para o segundo turno. Sem esquecer que Lula ainda vai aparecer mais.

3 comentários:

  1. Rui, o Serra é um bom político, mas talvez não para o comum brasileiro. Seria bom em Portugal, disso não tenho dúvidas.
    Gostei da análise e embora gostasse que o Serra ganhasse, a Dilma vai ganhar.
    Acho que o PSDB merecia aproveitar um pouco o que o FHC fez pelo Brasil e que o Lula tão bem soube aproveitar.
    Pelo que conheço do Brasil e pelo desenvolvimento que tem tido nos últimos 15 anos, talvez fosse bom uma política mais economicista.
    Veremos.

    ResponderEliminar
  2. Rui, concordo com voce em alguns pontos no que se refere a Dilma em cujo curriculo consta apenas o fato de ter sido a pessoa indicada pelo Presidente Lula, e efetivamente não sabemos o que virá caso seja eleita. Quanto a Serra discordo totalmente das suas considerações; não foi um excelente Ministro da Saúde, foi apenas Ministro. É um homem arrogante pois quando na prefeitura da capital de São Paulo, interrompeu todos os bons projetos que haviam sido iniciados pela sua antecessora, Marta Suplicy, o que vem comprovar que ele governa atendendo os apelos da elite e não se importa com a população carente. E como governador do estado, mais uma vez comprovou-se que ele estava lá apenas a serviço das elites pois promoveu uma "reestruturação" nas áreas-meio do estado que foi um verdadeiro rolo compressor causando um retrocesso nas relações entre governo e funcionários pois para conseguir aplicar tamanha selvageria nos funcionários indefesos, não teve a menor hesitação em se utilizar golpes rasteiros tais como tornar sem efeito toda a legislação que dava proteção e segurança, isto, a toque de caixa e na calada da noite, enquanto os funcionários e seus advogados estavam analisando os efeitos daquele torpedo, o projeto, que levaria meses tramitando pelos gabinetes até ir a plenário, foi aprovado em dois dias, isto é, os deputados nem leram o projeto, votaram a mando deste homem. São tantas as inconstitucionalidades contidas no projeto que hoje já se tornou lei, que o sistema judiciário ficará literalmente entupido com as ações que deverão dar entrada ainda este ano, e quem perderá logicamente será a população do estado, pois os pedidos de indenização em pecúnia serão elevadíssimos, pois dentre outras barbaridades os funcionários que já estavam em final de carreira foram revertidos à posição de inicio de carreira com graves prejuizos salariais, enquanto que, para as carreiras de elite, além dos altos salários não condizentes com a renda per capita da população ele ainda paga premio de produtividade até para funcionario que já morreu. Sem falar que usa métodos de avaliação e de metas totalmente ultrapassadas que já estão em desuso nos paises de primeiro mundo por terem se mostrado ineficazes e por não serem recomendados pelas organizações internacionais que tratam da saúde mental do servidor público. Se ele concordou com todas estas barbaridades durante o seu governo, é logico que no passado ele pode ter sido ministro mas nunca um bom ministro. Usei este fato real apenas para demonstrar a truculência deste homem quando está no poder.
    Não sei de onde voce tirou o grande e magnifico que disse a respeito dele, se tivesse sido tudo isto, não faria "uma campanha fraquíssima, entediante, sem entusiasmo e sem máquina popular de apoio" abordando temas polemicos e que não levam a nada, acusando a adversária de que se eleita ela vai "comer criancinhas" se referindo a uma possível legalização do aborto, rebaixando ao máximo o nível do debate, fazendo promessas mirabolantes e de praxe sem nenhuma imaginação, quando todos sabemos que se eleito, vai mesmo é obedecer a cartilha dos tucanos que é o NEOLIBERALISMO e os brasileiros vão sofrer mais do que bode embarcado.

    ResponderEliminar
  3. Olá Rui. Gostei muito do seu artigo sobre a corrida presidencial, tanto que de vez em quando volto e releio, e sempre identifico detalhes que me escaparam. O comentário de que Dilma é fraquíssima não procede, ela tem uma biografia de dar medo. atuou na guerrilha armada embora diga que não pegou em armas, isto é impossivel, não tinha como pois o proprio pais estava sendo governado por gente da pior espécie. o interessante neste caso, é que enquanto certos homens valorosos fugiram rapidinho do pais, foram para o exterior se fazerem de coitadinhos e viveram no bem bom como refugiados politicos. ela, ao contrário, ficou aqui, foi presa, torturada e cumpriu pena. a partir daí o que ela fez nestes anos todos para nós é um misterio, porém a vitória de hoje aguça a nossa imaginação: ela nunca perdeu o contato com os militantes da esquerda e é respeitadíssima por eles, e será nossa próxima presidente, ora pois....quanto a sua sugestão ao PSDB incluir jovens na campanha acho meio arriscado. os jovens brasileiros nasceram na época da repressão politica e cresceram sem ideais, não são comprometidos com a causa e também não respeitam os mais velhos, eles acham que nós mais velhos somos tolos ou gagás, que já não servimos para quase nada, então não iriam se sujeitar a serem comandados por um politico mais experiente. é claro que temos alguns jovens se iniciando na politica, mas, numéricamente, são de pouca expressão, tanto que, quando eleitos, são motivo de reportagens e certa curiosidade. O que falta ao PSDB é uma revisão de metas planos e objetivos. O que adiante se um partido de notáveis, se tudo o que fizeram até o momento tem sido preservar a burguesia e as elites; o pais é imenso e grandes são as necessidades. não dá para governar o pais se esquecendo daquelas familias que se encontram abaixo da linha da pobreza. Mudar estes conceitos significa um avanço rumo à democracia plena, à modernidade e à juventude que virá atraída pelas propostas humanitárias colocando o Brasil junto às potencias internacionais, não pelo potencial bélico ou superavit comercial mas sim pela erradicação da miséria e da condição sub-humana em que vive a maior parte da população brasileira.

    ResponderEliminar