Hoje, o Jornal de Negócios publica em primeira página "A Guerra do Twitter". Uma peça sobre a importância dessa rede social na comunicação política e a sua presença nas negociações entre a Europa e Grécia. Pediram a minha opinião e aqui deixo as perguntas e as minhas respostas.
- Na sua opinião, as negociações do acordo da Grécia teriam sido diferentes sem o Twitter?
- Julgo que não seriam diferentes, continuariam era mais no segredo dos deuses, em sala fechada. A política é a arte do compromisso e isso só é possível cara a cara. O Twitter pode ter servido algumas vezes como arma de pressão ou de dissuasão entre os participantes, jogando com o que era passado para a opinião pública, mas as negociações, os acordos, teriam de ser sempre uma decisão de homens e mulheres numa sala sem salas de chat.
- Esta rede social foi utilizadas por vários decisores das negociações incluindo durante reuniões importantes, bem como para esclarecer notícias que iam saindo nos media. O Twitter é mais eficaz do que organizar uma conferência ou enviar comunicados por exemplo?
- O Twitter tem a capacidade de gerir mais proximidade. Ali conversamos para as pessoas que nos querem seguir, sem intermediários. Essa percepção de proximidade com as pessoas é menor em conferências de imprensa ou quando os media são o veículo por onde canalizamos as notícias. Portanto, aqui não é tanto uma questão de eficácia, pois os media tradicionais têm uma capacidade muito maior de atingir um maior número de pessoas e assim continuarão. Aqui a comunicação política tenta criar é essa percepção de proximidade e de ligação às pessoas.
- O Twitter foi a fonte de muitas das notícias das negociações do acordo da Grécia. Na sua opinião, enriquece ou empobrece o espaço público? Ajuda a construir uma opinião pública mais informada e a ter uma noção mais clara dos acontecimentos?
- É verdade que sim que foi uma importante fonte. A internet dá informação, não dá conhecimento. As redes sociais, nomeadamente o Twitter, permitiram a ascensão de micro poderes, de outros líderes de opinião que não estavam nos media tradicionais. Ora, isso em muitos casos enriqueceu o debate e trouxe outros protagonistas, mas as redes sociais, ao contrário do Gate-Keeper dos media tradicionais, ainda não têm maneira de escolher o que é bom e o que é mau. Como dizia há pouco tempo o Umberto Eco: «Os jornais já não têm poder sobre o homem da rua. Não tenho a certeza que a internet melhore o jornalismo. Todos os que habitam o planeta, incluindo loucos, têm hoje direito à palavra pública». Agora, sem dúvida, há um maior acesso à informação, mas continuo a pensar que é fundamental na discussão no espaço público o critério e a independência de um jornalismo livre, são os media tradicionais que devem continuar a dimensionar e balizar o que é mais importante, mas acompanhando o que de bom vem aparecendo das redes sociais e integrando-o.
- O Twitter é actualmente uma das principais ‘armas’ políticas? O recente caso da Grécia veio, ou irá, alterar a importância deste instrumento como meio de comunicação política?
Exemplos para lá da Grécia: David Cameron, depois de ganhar as eleições na Grâ-Bretanha, anunciou em primeira mão o elenco do seu Governo no seu Twitter pessoal. Hillary Clinton anunciou que se candidatava à Casa Branca via Twitter. Dois exemplos claros de como o Twitter se tornou uma importantíssima arma de comunicação política. Depois, é sabido que vários actores políticos o usaram na sua ascensão e continuam a usá-lo na sua acção política diária. Dou o exemplo de Itália onde Beppe Grillo se tornou um dos políticos mais populares via twitter, e onde o primeiro-ministro Matteo Renzi é um fervoroso utilizador do mesmo. Mas são 4 casos que poderiam ser milhares. Hoje em dia os políticos usam o twitter como maneira de comunicar directamente com as pessoas. As negociações com a Grécia foram relatadas quase em tempo real pelos diversos protagonistas presentes nas reuniões via twitter. Há um caminho ainda a percorrer, mas as redes sociais têm esse lado de garantir uma percepção de proximidade. São canais fortíssimos e irão aumentar a sua presença na comunicação política. mas como em tudo na vida, na base de toda a comunicação está o bom senso. Há que saber ponderar o uso do Twitter e combiná-lo com a comunicação nos media tradicionais.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
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