No mundo muita gente temeu, por causa dos Jogos Olímpicos, a praga do Zika. Em Portugal o nosso território foi, e ainda é, martirizado pelos fogos florestais, mas, pior que tudo, como se do Êxodo brotasse nova praga de gafanhotos foi o pobre espectáculo que os canais de televisão deram ao ungir umas dezenas largas de "especialistas".
Especialistas entre aspas, porque o nome real seria embusteiros, com a conivência natural de quem os convidou e os intitulou assim. Vi cenas deprimentes, indivíduos e cavalheiras que nem sabiam do que estavam a falar, gente à qual nunca se conheceu um pensamento, que nunca publicou uma ideia, gente sem currículo, que não tem audiências e nem traz audiências. mas que todas as televisões ditas de informação ungiram como "especialistas". E isto aconteceu na SIC-N, na TVI24 e, especialmente, na RTP3 que é um desastre completo neste aspecto. Vamos a exemplos:
- na SIC-N é constante a presença de um politólogo, que nem os grandes politólogos portugueses conhecem e sabem quem é, não se conhece uma ideia, um pensamento de lado nenhum, mas o indivíduo surge todo lampeiro, comenta política nacional e internacional, até fala de comunicação (e aqui esclareço os leitores que o indivíduo nada sabe e nunca trabalhou em comunicação, que é a minha área e sei do que falo). Audiências zero, impacto zero, relevância nenhuma, já informei dois amigos decisores da SIC, mas o senhor continua a lá ir.
- durante os fogos que lavravam, das imagens mais terríveis e tristes que as televisões nos apresentam, foi ininterrupto a presença em todos os estúdios de dezenas de "especialistas" em fogos, florestas e meios de combate aos incêndios, horas e horas de comentários com inúmeras receitas, mas, ao mesmo tempo que debitavam sem parar, na vaidade de se ouvirem, não percebiam que as suas vãs palavras nada valiam e o espelho das suas receitas estava ser feito poeira como o nosso território e os bens das pessoas.
- Na RTP 3 vi um "comentador RTP" a comentar a Convenção Democrata sem a comentar, citando apenas Donald Trump num chorrilho de lugares comuns e sem saber nada de política americana. Duas notas minhas sobre isto: 1- para quem não sabe, eu fui editor internacional durante dois anos no jornal Semanário, onde tinha coluna semanal de opinião sobre temas da política internacional, fui à sede da NATO, em Bruxelas, escolhido então pela embaixada americana em Lisboa, para falar numa conferência sobre o programa PpP, que nem estes "especialistas" sabem o que é. Era Parceria para a Paz e o possível alargamento da Aliança Atlântica à Rússia. Já agora, sabem como se chamava a minha coluna de opinião no Semanário, nome que eu escolhi? "Olhar o Mundo", passados tantos anos, vejo que é o nome do programa de política internacional da RTP3. E sendo consultor de comunicação hoje, mantenho a leitura, actualidade e paixão pelo internacional. 2- por causa dessas leituras, cabe-me dizer que ao ouvir esse comentário sobre a Convenção Democrata e o Trump, enviei um sms para um responsável da RTP com o comentário: «o comentador não percebe nada do que diz, mas pelo menos leu o El Pais de ontem, pois está a dizer ipsis verbis o que lá vinha da relação do Trump com Putin, pelo menos isso».
- Na RTP3 vi outro "especialista", que estava à frente do Bernardo Pires de Lima (o único bom especialista, sem aspas, de política internacional da RTP, os outros numa televisão criteriosa seriam todos vetados) a mencionar, durante o impeachment no Brasil, «um senador Buarque que falou, mas que nada tem a ver com o Chico Buarque», como se estivesse a fazer humor para tapar a sua ignorância. o Buarque, que o "especialista" mencionava e não sabia quem era, era o Cristovam (sim, com M no fim) Buarque, um dos mais respeitados políticos brasileiros, governador de Brasília, ministro da Educação, criador do Bolsa Escola, mas o "especialista" em assuntos internacionais, "comentador RTP" nem ao trabalho se deu de preparar a sua intervenção, expondo ainda mais a sua ignorância.
- Na RTP3 para terminar por agora, mas tenho muitos mais casos assinalados, o ponto alto decorreu no 360 graus da Ana Lourenço. Nesse dia contei ao minuto, no meu mural e muita gente viu e outros foram rever nas suas boxes, e recebi inúmeras mensagens sobre o espanto, a vergonha, de como a RTP3, sem saber nos dias de hoje quem conta, preconceituosamente perdida nos seus amiguinhos e nos lóbis do costume, para o caso dos jovens iraquianos e da imunidade diplomática, ter convidado um indivíduo, "especialista" em assuntos internacionais, "comentador RTP" que olhou duas vezes para a cábula para dizer a data da Convenção de Viena, que nada sabia de imunidade e teve de olhar três vezes e engasgou-se duas, depois menciona mais duas vezes «comunicação política», janela fantástica para os ignorantes taparem o que não sabem dizer (e este indivíduo nunca trabalhou em comunicação política, garanto-vos eu) e ainda dispara um sonoro «zeitgeist», coisa que a maioria dos poucos espectadores da RTP3 não sabem o que é, e o indivíduo também não sabe explicar, mas cai bem dizer umas coisas «estrangeiras». Depois, disto, um qualquer decisor na plena posse das suas faculdades agarrava num telefone e dava ordens ao seu produtor para este "especialista" nunca mais aparecer. Sabem qual é o problema? Se calhar, nem os decisores estavam a ver este pobre espectáculo, e o mais grave é que o "especialista" estava 20 minutos depois a comentar outro tema no Jornal da 2.
Uma vergonha, a passagem de um atestado de imbecilidade a incautos em todos os canais, não contem comigo para eu calar esta pornochachada. Aqui me terão, não protejo medíocres, mas os medíocres protegem-se sempre uns aos outros. Portugal, infelizmente, é assim.
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
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