segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O PS, a Mortágua e o Sérgio Sousa Pinto

Assisti de alguma maneira atónito à tournée de Mariana Mortágua pela rentrée do PS em Coimbra. Aplaudida pela plateia, como um matador que percorre todas as praças à espera de semear simpatias para colher troféus no dia de amanhã, o partido não compreendeu que, apesar dos tempos de grande coligação que se vivem, o seu discurso nada tem a ver com a instituição fundadora da nossa democracia.

O PS é um grande partido de poder, na sua raíz tem, naturalmente, o diálogo com todos os espectros políticos, especialmente com os partidos à sua esquerda, mas a sua matriz, o seu âmago, é o socialismo democrático e a social-democracia. O carácter de grandes homens como Palme, Brandt, Mitterrand que o influenciaram nada têm a ver com o marxismo-leninismo nem com trostskismo.

Se alguém considera o discurso de Mariana Mortágua (pessoa com a qual simpatizo) moderno, está profundamente enganado. Se acham que esse discurso vale votos hoje, amanhã verão que as palmas que lhe bateram, serão punhais no coração. O PS deve dialogar sempre, mas não subjugar os seus princípios, os seus valores democráticos, a uma plêiade de carinhas larocas e aparentemente simpáticas que são o rosto do populismo da esquerda mais ortodoxa mas que é apaparicada pelos media e pelas televisões.

A propósito dos três parágrafos anteriores, quero dizer que conheço o Sérgio Sousa Pinto há muitos anos. Já disse coisas que eu não gostei e, por certo, ele já deve ter odiado coisas que escrevi. Mas tenho muita estima por ele, é um político sério e honesto (e de honestidade intelectual também) e tem substância, algo que nos dias de hoje, em que os políticos cheios de ar temem que a qualquer momento lhes apareça alguém com um alfinete, é de saudar. Além disso, temos uma coisa em comum: dizemos o que pensamos, por muito que isso custe a quem ouça.

Sobre esta questão do PS e Mariana Mortágua escreveu no seu mural e cito na íntegra:
«Lição ministrada do alto do legado histórico do trotskismo ou de uma qualquer seita comunista heterodoxa.
PS, penitencia-te, ainda vais a tempo, junta-te a nós, 1975 é passado, o capitalismo não sobreviverá ao nosso grandioso compromisso histórico.
Esta paródia senil, protagonizada por jovens burgueses cripto-comunistas e habilidosos pantomineiros da velha escola, sairá cara ao meu partido. Já só falta emergir um furioso qualquer, recentemente criado dirigente e ideólogo, ex...plicar que os últimos 40 anos foram governados pela direita - foi esse o problema.
Chegou a alvorada de Abril e a primavera dos povos, versão Madame Tussaut. Não há esganiçado que não bata com a moca da igualdade no chão, para levantar pó e celebrar a morte da direita. Parados no passado a atrasar o futuro e a teorizar a resplandecente justiça social inerente ao socialismo de miséria. Querem reabrir a gaveta onde Soares fechou diferentes caricaturas do Socialismo. Não escondem ao que vêm: superar o modelo. Ora, eu gosto do modelo. Foi construído pelo PS, com tremenda dificuldade, e pela direita democrática. Com o contributo do radicalismo esquerdista nunca se conseguiu construir uma cadeira de pau. Quanto mais o Socialismo».

Concluo que ainda há algumas pessoas que não seguem, por muito bela que seja a música, os acordes de uma qualquer inebriante flauta mágica. E bem.

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