No livro "Música para Camaleões" (edição Livros do Brasil, chancela que em boa hora recuperou a Porto Editora), que contém 16 contos de Truman Capote, existe um deles que nos traz "Mr. Jones".
Uma personagem que não saía do seu quarto, em Brooklyn, mas que recebia pessoas. Não era traficante de droga, nem cartomante, as pessoas vinham apenas para conversar com ele. E em troca das suas palavras e conselhos, as mesmas, gratas, davam-lhe algum dinheiro.
Capote, que morava ao lado, nunca conversou com ele. Apenas viu aquela figura marcante, de rosto pálido, com um sinal de nascença na bochecha esquerda. Era cego e também aleijado, quase incapaz de se deslocar. Um dia, porém, Mr. Jones desapareceu.
Dez anos mais tarde, em Moscovo, com 18 graus negativos, numa carruagem do metro, Capote vê o Mr. Jones. Não lhe consegue dirigir palavra porque este se levanta, «firmando-se num par de pernas robustas e sadias, se pôs de pé e saiu da carruagem em passada larga».
A política tem muito de Mr. Jones, por vezes um embuste, um engano para caçar votos, mas, mais cedo ou mais tarde, a mentira tem sempre perna curta.
quinta-feira, 21 de maio de 2015
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