quarta-feira, 13 de julho de 2011

O homem que gostava de cães

«A vida é mais vasta do que a História», é com esta frase de Gregorio Marañon que entramos no último livro de Leonardo Padura, um dos melhores escritores cubanos.

«Não pensou que era um velhote indefeso e que você estava a agir com enorme cobardia?»; «Eu não pensava nada». O velhote é Trotski, o outro, o assassino, Rámon Mercader, que foi também Jacques Mornard ou Frank Jacson o nome que usava quando matou no México o companheiro de Lenine.

É um livro soberbo, sobre o medo, a morte, ela que pode acontecer a qualquer momento, sobre a motivação das paixões. Trostski queria mudar o mundo e a sua Pátria, Rámon tornou-se assassino para agradar a uma mulher, África.

Mas é um livro sobre o desespero. Do homem que fez uma revolução e a vê adulterada nas mãos de um tirano, Estaline. «A intolerância política que invadia a sociedade não descansaria enquanto não a asfixiasse». E desespero por o assassino perder a identidade, depois de uma lavagem ao cérebro numa floresta junto de Moscovo.

E há um homem, em Cuba, que vê outro homem marcado para morrer, acompanhado de dois cães numa praia. O seu destino é escrever esta história. A do matador. Mas durante toda a obra, que passa pela União Soviética, Barcelona, México, Paris, Noruega e Cuba, lê-se o desencanto com a revolução soviética, as purgas estalinistas, a ascensão de Hitler ou os sonhos desfeitos de Fidel Castro.

São mais de 600 páginas intensas e de arte. Um grande livro para lerem.

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