Parece um paradoxo e é. Hoje, Cavaco Silva é importante como figura de credibilidade para agências de rating, mercados, empresários, instituições internacionais. Sem ele, seria o poeta e aí viria o caos.
A figura esfíngica de Cavaco, os seus silêncios, a sua vida política em que nada disse, granjeou prestígio e dá tranquilidade a quem investe e empresta dinheiro a Portugal. Porém, é Cavaco Silva (e depois António Guterres) o grande responsável pela situação que atravessamos, aliás muito bem expressa num artigo do João Vieira Pereira no Expresso desta semana.
Para mim, Cavaco foi um dos piores Primeiro-Ministros da história da nossa democracia. Depois de um Governo de salvação nacional, de políticas duras e da vinda do FMI, na era de Mário Soares e Ernãni Lopes que recuperaram um país em bancarrota, Cavaco tinha tudo - e muito dinheiro europeu também - para ficar na História.
Cavaco, com o primeiro governo minoritário e as duas maiorias absolutas subsequentes, teve todos os instrumentos à sua disposição, ninguém lhe levantou a voz como ele gosta (pois ele não é muito de democracias) e meteu tudo no bolso, inclusive um partido que se mantém refém dele há mais de 20 anos.
Mas Cavaco, um provinciano inculto e conservador, optou por auto-estradas, cobriu o país de asfalto, até porções do nosso território que não precisavam dele. Encheu o país de cursos universitários de papel e lápis, deu doutores que ganharam canudos mas não sabem fazer nada; deixou os nossos poucos empresários cairem as suas Marcas para se entregarem à luxúria do sector terciário; Portugal tornou-se um paraíso turístico para os parolos ingleses e para os operários alemães.
Portugal perdeu mundo e ambição. Cavaco nunca fez reformas verdadeiramente importantes, a educação e os sectores de ponta foram esquecidos. O País, com ele, perdeu a sua grande oportunidade.
Em 20 anos, Cavaco e os cavaquistas ditaram o futuro de um partido que se tornou de centro perdendo a sua matriz liberal. Ainda hoje em dia, temos de perceber, psicologicamente, a tomada de posição de Pedro Passos Coelho sobre o Orçamento como uma fuga à figura de Belém e dos seus fieis.
Cavaco pode marcar estes 30 anos da política portuguesa pelos cargos que desempenhou, mas ficará na História como o obreiro da nossa dívida endémica. Fez estradas mas hipotecou o futuro de gerações.
Em Espanha, no Barcelona, o actual Presidente decidiu pôr um processo de má gestão a Joan Laporta, o anterior presidente que deixou uma dívida astronómica. Se os portugueses pusessem um processo de má gestão do país aos seus governantes, o primeiro no banco dos réus seria Cavaco Silva.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
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Completamente de acordo
ResponderEliminarFantástico texto e é uma cópia fiel do inculto presidente a prazo que temos.
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